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ROSA DE ESPERANÇA (MRS. MINIVER)

Este é um filme que em 1943 ganhou o Oscar de Melhor Filme, Melhor Direção (William Wyler), Melhor Atriz (Greer Garson), Melhor Atriz Coadjuvante (Teresa Wright), Melhor Fotografia e Melhor Roteiro. O ator Walter Pidgeon concorreu a melhor ator mas o vencedor foi James Cagney. É um filme que poderia ser melhor (em diversos aspectos), não concordo com a premiação da atriz Green Garson (apenas boa), mas não há dúvidas de que foi muito bem produzido, tem algumas cenas ótimas (duas delas memoráveis) e o mais importante: foi feito em uma época na qual a Segunda Guerra ainda estava efervecendo. Ou seja, a relevância do filme não consiste apenas no próprio filme, mas no momento em que foi ousadamente produzido e nos efeitos que acarretou. Porque aconteceu com ele um fenômeno extraordinário: com sua mensagem, influenciou muitos países, boa parte da Europa e principalmente a Inglaterra (que quando o filme foi feito ainda não havia sido atacada pelos alemães, mas estava na iminência…). Inclusive o Primeiro-Ministro britânico, Winston Churchill proferiu a famosa frase, no sentido de que Rosa da Esperança havia feito mais pelo esforço de guerra do que uma frota inteira de destróiers. O presidente Roosevelt dos EUA também se impressionou e determinou que o discurso final do vigário fosse retransmitido pela Voz da América e distribuído em folhetos por toda a Europa. Como dito, é um filme que poderia ser melhor (mais denso etc.), mas que pela importância histórica vale a pena ser visto. Como também vale pelo menos por uma cena: a do abrigo antiaéreo na casa da família. Que é espetacular, emociona e lembra o mestre Hitchcock, quando dizia que o maior terror é aquele que o espectador não vê (mas ouve, sente em sua volta e na própria pele !).  8,0

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CONTRATIEMPO

Trata-se de um filmaço espanhol. O cinema da Espanha, aliás, junto com o Argentino (muitas vezes em co-produção), já tem o reconhecimento internacional pela sua qualidade, inclusive no gênero drama com suspense, que é o caso. Aqui uma trama muito interessante, inteligente, bem arquitetada e imprevisível, que acompanhamos atentamente e que valoriza o espectador em cada cena, em cada detalhe e nas reviravoltas, desaguando para um final que além de apresentar um desate à altura da expectativa e da qualidade da obra, mais uma vez enaltece a inteligência do espectador, merecendo elogios quem a elaborou, com o cuidado de um artesão. Dirigido pelo competente Oriol Paulo (Os olhos de Júlia, O corpo…), tem também um ótimo e coeso elenco.   9,0

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TOO LATE

Não é um filme arrebatador, mas atrai e mantém o interesse pela estranheza, pela originalidade. Pode-se dizer, plagiando um comentário que li, que é “estranhamente bom”. É algo diferente, que envolve um personagem de submundo (um detetive particular daqueles meio “avacalhados” – ótimo John Hawkes) e acontecimentos às vezes aparentemente sem conexão. O início é assim. Não se trata de um filme maior ou inesquecível, mas é sempre bom ver algo “independente” e bem feito de vez em quando. Que a gente vai vendo com expectativa e curiosidade permanentes. Tem ótima trilha, boas cenas, bons diálogos. Um quase Tarantino quem sabe…8,0

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DEUS BRANCO (WHITE GOD)

Um filme húngaro (também sueco-alemão) surpreendente. Pela temática insólita, pela crueza da abordagem e pela força, que também carrega com ela também coerência e uma harmonia precisa de elementos. Um trabalho impressionante e que causa impacto. Ótimo suspense, trilha sonora excelente (adequada em parte a execuções de orquestra), na verdade um terror diferente, muito bem interpretado e produzido. Algo que realmente sai da rotina e basta examinar o cartaz para se concluir facilmente pela verdade dessa constatação. Ganhou vários prêmios, incluindo o da mostra paralela da seleção oficial de Cannes 2014 (Um certo olhar) e, para se ter uma ideia de seu gênero, ganhou também o primeiro lugar no Festival Europeu de Cinema Fantástico de Estrasburgo8,7

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EU DANIEL BLAKE

Um filme britânico, premiado, que exalta a dignidade do ser humano. Fala da vida cotidiana e dos tempos atuais, das dificuldades do desemprego, de se obter dignidade com a velhice e a aposentadoria, da saúde diante da máquina estatal cega, inflexível e burocrática, que gera dolorosa insegurança. Inclusive pela falta de conhecimentos tecnológicos pelo cidadão comum. Mas aborda também a generosidade, a compaixão e outros valores importantes a serem preservados. Um filme forte e certeiro no realismo que aborda, mostrando um universo incômodo mas verdadeiro de pessoas que transitam por situações desfavoráveis e até inesperadas (de miséria). E dependentes do Estado e de regras nem sempre justas e equilibradas. Como entretenimento, o filme obviamente não traz diversão alguma.  Como documento importante, porém, merece 4 estrelas ou mais (quem não se identifica em algum momento com as situações mostradas?). Tanto é assim, que o filme ganhou a Palma de Ouro em Cannes 2016 e o Oscar Francês (Cesar) em 2017, como Melhor Filme Estrangeiro, entre outras premiações.  8,5

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PATERSON

O diretor é Jim Jarmusch, de Amantes eternos, um sujeito nada convencional. O ator principal, e que está muito em voga, é Adam Driver. Só que aqui não há nada de insólito, de estapafúrdio, de estranho…ao contrário! O que o filme mostra é a rotina de um motorista de ônibus honesto, correto na profissão, que capta as coisas que se passam à sua volta e escreve poemas em um caderno. Vivendo na cidade cujo nome ele também carrega e que dá título ao filme. Ele tem uma esposa, com quem se relaciona de uma maneira afetuosa e madura, extremamente respeitosa, um cachorro, uma vida simples e o filme mostra isso. Na verdade, o que vemos é um resgate à dignidade em meio aos caos em que todos vivemos hoje em dia. Um profissional correto, um relacionamento digno e positivo, cenas que resgatam a esperança no ser humano e no futuro da humanidade em uma cidade que não cedeu aos apelos da modernidade, dos shoppings e o próprio personagem recusando inclusive o uso do celular, entendendo que poderia viver muito bem sem ele. Uma melancólica rotina e que em alguns momentos apresenta surpresas (duas delas bem desagradáveis). Algo delicado, bem construído e que na sua singeleza consegue transmitir uma bela e significativa mensagem, trazendo delicadeza e algumas cenas bastante marcantes (a da menina e a do cachorro são antagônicas mas acabam no desfecho com o presente surpresa do japonês). Claro que o que acima está colocado como virtude, pode para alguns significar um filme monótono e de pouco sentido. Mas faz parte do gosto de cada um.  8,7

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LUA DE FEL

Um filme polêmico, impactante, perturbador, do renomado diretor Roman Polanski, produzido em 1992. Alguns consideram a melhor obra do diretor. De fato é uma obra corajosa e um dos desafios era ele ser casado na época com a atriz principal. Conforme o ângulo de análise, um filme avassalador e com poucos defeitos. Forte, sensual, cruel na análise dos relacionamentos, da decadência do amor, do amor obsessivo, compulsivo, cruel, uma radiografia da insanidade e da paixão…Personagens muitíssimo bem delineados, sensualidade à flor da pele, belíssima trilha sonora, fotografia perfeita… Do contexto: “Não há nada que você faça que eu não faça melhor” (quem assistir a ele vai entender!…)…obsceno ou sacramento??? Hugh Grant muito bem, em papel diferente dos seus habituais no cinema, Emmanuelle Seigner uma força da natureza e ótima inclusive no sotaque, Kristin Scott-Thomas mostrando sua beleza invulgar e sua versatilidade como atriz, em um papel bem difícil e Peter Coyote simplesmente magnífico!  9,0

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A BELA E A FERA

Este filme foi feito pelos Estúdio Disney com base no desenho de 1991  – que foi o primeiro animado a ser indicado ao Oscar e a ganhar o Globo de Ouro – melhor musical ou comédia. E em todos os sentidos é extremamente fiel ao modelo, inclusive em qualidade: todos os detalhes mereceram cuidados especiais e os números musicais são dinâmicos, contando com a beleza dos cenários, o requinte nos figurinos e na direção de arte, a perfeição coreográfica, vocal, instrumental e tudo isso conduz o espectador a momentos de alegria e deslumbramento. O ritmo é extremamente ágil e as músicas são realmente belíssimas e emocionam, bem como a própria história em si, que é clássica e dispensa maiores comentários, inclusive quanto à sua principal mensagem: o amor não se constrói com base na aparência, mas na riqueza dos valores internos. O diretor é Bill Condon (Saga Crepúsculo, Dreamgirls, Senhor Sherlock Holes…). Emma Watson está bem adequada no papel de Bela, Luke Evans ótimo como Gaston e muitos artistas famosos integram o elenco, como Kevin Kline, Emma Thompson, Ian McKellen, Ewan McGregor, Stanley Tucci etc. Interessante que a origem dos contos de fadas é assunto polêmico, podendo ter ocorrido há milhares de anos atrás. Mas a adaptação que deu origem aos contos modernos de La Belle et la bête foi publicada oficialmente pela primeira vez anos de 1700 e pouco, pela francesa Gabrielle-Suzanne Barbot de Gallon de Villeneuve.  9,2

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A CABANA (THE SHACK)

Este é um filme baseado em um best seller (mais de 4 milhões de livros vendidos) e talvez seja uma daquelas obras para se “ver com o coração”. Porque o público adorou o filme, mas imprensa o “detonou”. Começa como drama de costumes, assume tons fortes de suspense e repentinamente deriva para um outro gênero, completamente diferente. Quem não conhece a história vai se surpreender (não vou aqui estragar a surpresa). E vai deixando os fatos acontecerem, até fazendo julgamentos, sendo crítico, gostando ou não desses caminhos insólitos…mas vai acabar se contagiando com muitos dos argumentos, com as imagens, a música e principalmente com a mensagem que o filme deseja passar. Que é belíssima, independentemente da religião e dos credos de cada um. Um roteiro construído com muito cuidado e delicadeza e uma direção muito boa de Stuart Hazeldine harmonizam-se perfeitamente com os demais elementos e com as ótimas interpretações, principalmente de Sam Worthington e Octávia Spencer. De propiciar muitas emoções. 8,8

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NOSSOS AMANTES

Eduardo Noriega e Michelle Jenner, bonitos e com ótima química, interpretam os personagens dessa gostosa comédia romântica (com drama) espanhola. O filme é leve, emociona, diverte e também é dinâmico e inteligente, sendo bastante interessantes alguns (vários) diálogos. Se qualquer um ler a sinopse do filme, não conseguirá entender que tipo de atração pode ter uma história aparentemente tão banal, tão corriqueira e tolinha. Entretanto, a riqueza dos personagens e do roteiro, a ótima direção (Miguel Ángel Lamata, que também roteirizou) e principalmente o talento e carisma do par central justificam todo o encantamento. E é com essa sensação e alguma reflexão que terminamos de ver o filme e sentimos ainda por algum tempo seus efeitos positivos. 8,5

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MULHERES DO SÉCULO XX  

Esta comédia dramática dirigida por Mike Mills trata de diversas questões, universais e também típicas dos anos 70. Com trilha e tons da época, é leve e complexa ao mesmo tempo – foi indicada ao Oscar 2017 de Melhor Roteiro Original e tem o mérito de bem desenvolver todos os personagens, tendo como painel de fundo as mudanças sócio-culturais da época e as dificuldades de adaptação, inclusive sob o foco do conflito de gerações. A ótima interpretação de Lucas Jade Zumann nos permite ver claramente os fatos sob o foco do filho, que na adolescência sofre todas as pressões e dores/descobertas típicas. Não é fácil tampouco para a mãe, a excelente Annette Bening, pois todas as mães desejam que o filho seja poupado das dores do mundo. A frase dela, a certa altura, sintetiza tudo: “O quanto ama o garoto é o quanto vai se ferrar”. É uma obra madura, com Elle Fanning e Greta Gerwig também muito bem e com muitas cenas marcantes, como a da dança, a do discurso de Carter e a da reunião à mesa (“menstruation”). O que fica é que a vida é para ser vivida com o peito aberto, com as emoções assumidas e que os conflitos e dilemas vêm e vão e nem sempre são fáceis de resolver: mas havendo amor, perseverança e coragem/integridade se pode passar pelas fases todas, amargas ou não, com dignidade e sabedoria. O final é belo, original – ficamos sabendo do destino dos personagens por eles mesmos – e tocante.  8,8

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EL AURA

Belíssimo drama policial argentino de 2005/2006 (co-produção França e Espanha), capitaneado por Ricardo Darín – este é o vigésimo filme que vejo com esse ator e é sempre uma aula – e com um excelente elenco. Ótimo roteiro, ótima trilha sonora, muito mistério, suspense e constante tensão (!), em cenas extremamente bem dirigidas e com um enredo que realmente não se sabe que surpresas trará. O título do filme faz referência à doença do protagonista  – epilepsia -, que é por profissão taxidermista (empalha animais) e que acaba se envolvendo em um emaranhado de fatos, tão inesperados quanto imprevisíveis. E o espectador acompanhará tudo com emoção e o maior interesse, e sem poder tirar os olhos da tela, tal a maestria da direção/edição (por Fabián Bielinsky, que também dirigiu Nove Rainhas e que faleceu no mesmo ano de 2006 em que viu seu filme ser festejado) e das performances. Para o diretor, o gênero do filme é policial anômalo, tais as peculiaridades do roteiro e do enfoque. Há críticas mornas para o filme, mas predominam as entusiasmadas. De qualquer maneira, foi indicado ao Oscar de 2006 para a categoria Melhor Filme Estrangeiro e ganhou diversos prêmios, de filme, diretor, roteiro, fotografia, trilha sonora e ator, incluindo o Argentine Film Critics Association Awards de 2006.  9,0

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A 25ª HORA

Um belo e sensível filme, de 1967 e estrelado por Anthony Quinn. A história, “sobre” a guerra e não “de” guerra, apresenta-se leve em alguns momentos e extremamente dramática em outros, principalmente na parte final, sendo bastante inspirada e feliz na sua marcante e derradeira cena. Testemunhamos reviravoltas inacreditáveis e até bizarras nas desventuras do personagem, inocente agricultor e muito bem interpretado por Quinn, um dos atores mais versáteis do cinema. Virna Lisa, uma bela atriz da época, também estrela, sob a direção de Henri Verneuil (Os sicilianos, I…como Ícaro). A partir da Romênia de 1939, são retratados fatos relacionados com a Segunda Grande Guerra, envolvendo o domínio Alemão sobre grande parte da Europa (o totalitarismo…), as invasões dos russos, as perseguições aos judeus etc. O título do filme faz referência a um livro escrito por um dos personagens, sendo que seu autor já no início do filme esclarece –  após o anúncio pelo rádio da invasão da Tchecoslováquia pela Alemanha e um discurso de Hitler –  que tempos difíceis se aproximavam, que as 24 horas do dia já estavam perdidas e que aquele momento vivido seria, então, a 25ª hora. Baseado em sucesso literário de Virgil Gheorghiu, que o escreveu quando em campo de concentração americano, a trilha sonora é de Maurice Jarre.  8,7

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BOKEH

Este drama de ficção científica tem uma nota baixíssima no IMDb (Internet Movie Database) – base de dados de filmes da internet, ou seja, notas do público para os filmes. Mas, particularmente, discordo dessa baixa avaliação e acho que muita gente vai apreciar a obra. Não é um filme brilhante, arrebatador, de grandes emoções, mas é algo bem feito e que pode propiciar um estudo interessante da natureza humana. Das necessidades imediatas e daquelas que são fundamentais para o ser humano. O que é imprescindível, afinal? É possível se viver no ideal do amor romântico ( o “só nós dois e dane-se o mundo”)? Uma produção diferente, americana-islandesa, com a ação se passando inteiramente na Islândia e cujo título faz referência a um termo – polêmico na área da fotografia – e que, em resumo, significa “a parte da foto que fica intencionalmente fora de foco”. Ficamos sem explicação alguma sobre a causa do fenômeno (que ocorre logo nas primeiras cenas), não temos propriamente um final conforme esperado, mas a última cena parece acenar fortemente para a possibilidade de adivinharmos facilmente sobre o destino do personagem.  7,5

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LOGAN

Um filmaço e que os fãs da série X-MAN vão apreciar e muito! Entretanto, para os que não acompanham a série o filme também vai agradar, embora a compreensão dos fatos se torne um pouco mais difícil e vá ocorrer ao longo da história. Um filme de ação e com violência espetacularmente selvagem, sem qualquer condescendência ou compaixão. De ninguém. O espectador deve esperar de tudo neste belíssimo –  e melancólico (pelo crepúsculo de seus heróis) –  filme de ação e que tem fartura de cenas para se ficar grudado na poltrona, tal o seu impacto e perfeição. A par de tais cenas, contudo, existe aqui  uma profundidade temática elogiável, porque se trata da decadência física e psicológica de heróis, castigados pelo tempo e pela sua própria história: Wolverine,  já fatigado e inclusive intoxicado pelo adamantium que sempre constituiu sua força e vigor (embora com acessos de sua poderosa fúria) e o Professor Xavier, vivendo sob severa dependência à base de remédios para conter suas poderosas convulsões, agora descontroladas (a despeito da consciência que ainda mantém, de seu poder avassalador). Certamente este oitavo filme é um dos memoráveis da saga e aqui Hugh tem uma das mais vigorosas atuações de sua carreira, dirigido novamente pelo também roteirista James Mangold. O título do filme é o nome verdadeiro de Wolverine.  9,0

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BRIMSTONE

Este é um filme de classe. Um filmaço produzido pela Dinamarca, França, Alemanha e Bélgica, rodado nos EUA e que se passa no Velho Oeste do século XIX. Tudo é mostrado de uma forma original, singular até, sendo o drama acentuando pelo ótimo suspense, valorizados pela trilha sonora e pela belíssima fotografia (e locações). Além da excelente direção do holandês Martin Koolhoven (também autor do roteiro). É um drama pesado, que ressalta o fanatismo e a violência, mostrados sob o ponto de vista feminino, contendo inúmeras cenas chocantes e que se tornam mais intensas pelas brilhantes interpretações de Guy Pearce (um reverendo memorável), Dakota Fanning e Emilia Jones. Também apresenta Kit Harrington e Carice Van Houten (o Jon Snow e a Melisandre, ambos de Game of thrones). O filme participou da mostra oficial do Festival de Veneza de 2016 e tem méritos para receber diversos prêmios ainda.  9,0

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MISS SLOANE

O filme – produção EUA-França – tem alguns diálogos afiados, bom ritmo, excelente atuação de Jessica Chastain (indicada ao Globo de Ouro), além de ótimas performances de todo o elenco (Mark Strong, Sam Waterston, John Lithgow etc.) e da competente direção do britânico John Madden (A prova, O exótico hotel Marigold…). Mas seu tema não é original e sua duração excessiva (2h 12min). Entretanto, os americanos são craques em fazer filmes como esse (no caso, envolvendo as atividades de uma lobista e os limites legais e éticos – inclusive da própria política americana) e suas qualidades acabam prevalecendo, principalmente em sua parte final, que acaba fazendo tudo valer a pena.  7,8

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KÓBLIC

Esta é uma co-produção Espanhola-Argentina de 2016 e que se passa na época da ditadura argentina, nos anos 70. A nota do público e da crítica aponta o filme como apenas regular. Mas eu discordo desse conceito. Achei o filme muito bom. O roteiro não apresenta quase nada de novo, é verdade, mas a questão é justamente essa: nisso reside o mérito da obra, porque um roteiro banal foi transformado em um ótimo filme. Graças ao talento do diretor Sebástian Boreinztein (Um conto chinês) e ao elenco, integrado por Inma Cuesta (La novia), entre outros, mas com uma belíssima atuação de Oscar Martinez (Paulina, Inseparáveis…) e o brilho do sempre magistral Ricardo Darín (Relatos selvagens, Truman, Um conto chinês, O segredo dos seus olhos etc. etc.). Um filme que vai se construindo com segurança e crescente tensão e que em momento algum perde o rumo, apresentando de relance alguns chocantes acontecimentos do regime da época. E aqui reside o senão da crítica: a falta de aprofundamento dos fatos tenebrosos/macabros da ditadura…mas ninguém é obrigado a fazer um filme para contentar os críticos, nem para eleger como fundamental o foco por eles desejado. Um filme, a meu ver, deve ser valorizado não pelo que ele deixou de mostrar, mas sim pelo que ele apresentou, dentro dos caminhos do roteiro e da particular ótica do diretor. E mais: certamente um filme médio de Darín já é superior à maioria dos que circulam por aí: vê-lo atuar é sempre um prazer renovado.   8,5

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SUNTAN

Um filme grego, contando a história de um médico de uma pequena ilha grega (Antíparos), sua rotina monótona e correta e esse ritmo de vida quebrado no verão, pela invasão de turistas na ilha e por um fato particular. O filme é bom porque incomoda! Quem se identifica com ele – na sensação de não-pertencimento, de ser careta, exclusão, rejeição, vontade de ser igual, de aproximar universos diferentes e incompatíveis, timidez, a constatação da juventude irresponsável etc. etc. -, vai sentir certamente muitas sensações incômodas. E quem também já conheceu alguém como quem aparece na vida do tímido médico de meia idade vai compreender perfeitamente e sentir na pele os espinhos do personagem. E nisso reside a qualidade do filme, com seu roteiro e seu excelente intérprete, que na parte final notadamente nos passa o verdadeiro horror do animal enjaulado, transmitindo-nos o triste e ao mesmo tempo o patético. Vemos sentimentos, frustrações, a dor da solidão, a gênese do ciúme e até da violência…Talvez em determinada época das nossas vidas não tenhamos conseguido ver, mas agora contemplamos com clareza o ridículo, a inadequação, o despropósito…ego ferido, raiva, inveja, dignidade a ser restaurada…e nem se pode dizer que a “viagem” é fruto da falta de cultura, da ignorância…é o amor mesmo (ou a paixão, que seja!), cego, raivoso e cruel – tornando ridículo o mais íntegro dos homens – , que causa todos esses dissabores! Inapelavelmente!   8,5

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BELLES FAMILLES

Uma comédia dramática/romântica de 2015, francesa, com os conhecidos (e ótimos) Mathieu Amalric, Gilles Lelouche, André Dussollier e Karin Viard e com a jovem atriz e modelo Marine Vacth (que inclusive já foi indicada ao Cesar, Oscar francês, como atriz revelação). A trama começa meio confusa, mas depois fica clara e vai pegando o ritmo, ficando muito interessante e até contagiante em muitos momentos, principalmente em sua parte final, cujo timming é excelente, demonstrando uma invejável harmonia de direção, edição e interpretação (fora trilha, fotografia etc.). Divertida, às vezes séria outras melancólica, mas muito bem feita, o diretor é Jean-Paul Rappeneau (Cyrano de Bergerac, com Depardieu, 1990).  8,5