JOIAS BRUTAS (UNCUT GEMS)

Este não é um filme propriamente atraente em termos de diversão. Mas, para quem gosta do gênero, é forte, tenso, neurótico, tem um ritmo insano e frenético, com vários momentos eletrizantes (e angustiantes), principalmente em seu final. Sem dúvida, pelos detalhes e pelo produto final, é algo intenso e de quem sabe fazer cinema (no caso, os quase iniciantes irmãos Josh e Ben Safdie). E a enorme surpresa: este drama do gênero policial/crime da Netflix traz uma espetacular atuação do ator Adam Sandler, acostumado a fazer comédias e em geral com pouca credibilidade para outros caminhos (mas só até agora): aqui ele apresenta uma performance impressionante, realmente até digna de um Oscar. Trata-se da história e a trajetória de um negociante judeu de joias e o nome do filme se refere a uma pedra com brilhantes, em torno da qual orbitam inúmeros fatos importantes e vitais do enredo. O protagonista é ambicioso, obsessivo em fazer negócios, cego para coisas e pessoas que estão à sua volta, adota um estilo de vida totalmente tumultuado e estressante, negociando com todo tipo de gente (inclusive perigosa), seguindo diversos caminhos tortos e fazendo conchavos e negociatas sem limites. Sua vida social não existe, a familiar e amorosa começa a ficar abalada e desintegrar, mas ele não enxerga isso, porque não tem tempo e seu norte o faz obcecado. A dinâmica do filme é espetacular e neurotizante, com diálogos e ações rápidas, movimentos de câmeras, impacto visual e sonoro, vários fatos acontecendo e diversas pessoas falando ao mesmo tempo, quase o tempo todo, com um personagem brincando com o perigo e queremdo resolver tudo à sua maneira, achando que naturalmente tudo vai acabar dando certo. A direção e edição do filme são admiráveis e não são coisa de amadores, assim como a trilha sonora é também palpitante e estranha como deve ser (com misturas de elementos), de modo a acompanhar perfeitamente a ação e a montanha-russa de Howard. É como se embalado pelos seus próprios conceitos e valores, ele ficasse permanentemente correndo contra o tempo e seguindo resoluto seus caminhos (e sem nada de ética ou de respeito pelo próximo), sem pensar nunca no vazio em que eles poderiam resultar. O filme é violento, cru e a história chega em momentos nos quais fica quase insuportável, chegando ao seu final de uma forma dura porém coerente: o homem, sendo vítima de sua ganância e com a cegueira que lhe impõe a cobiça.  8,7