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JOGO DE CENA

Eduardo Coutinho foi um dos mais famosos documentaristas do Brasil e várias vezes indicado a prêmios de direção. Este filme-documentário se propõe a levar ao espectador dramas diversos da realidade brasileira, envolvendo casamento, traição, violência doméstica, filhos, encontros, desencontros, perdas…na palavra das próprias brasileiras que os vivenciaram ou vivenciam. Com dois detalhes: primeiro, as que responderam o anúncio de jornal (outra boa jogada) sentam em uma cadeira estrategicamente colocada em um teatro quase vazio e Coutinho funciona como se fosse um terapeuta, fazendo as perguntas e deixando as “pacientes” discorrerem livremente sobre os fatos. O que é feito de uma forma bastante natural e por isso extremamente contundente. Mas o segundo detalhe é que além de ouvirmos os fatos de quem os experimentou, também os apreciamos vindos da interpretação de três grandes atrizes, que tentam transpor para a tela, com sua experiência e sensibilidade, na exatidão, os dramas vividos pela mulher que representam: são elas, Marília Pera, Fernanda Torres e Andréa Beltrão. E aqui vem o mais interessante: por mais veteranas e maravilhosas que sejam as atrizes, seu desempenho da realidade deixa um pouco a desejar após ouvirmos a mesma realidade contada pelas próprias protagonistas! Esse fato é profundamente significativo e também é explorado pelo diretor, que igualmente insere no filme os diálogos inquietantes que teve com as atrizes justamente sobre os papéis que estavam interpretando, sua limitação e dificuldades, inclusive por se tratar de temas comuns a todos e que sempre remete a algum fato familiar e às vezes doloroso. Relatos pungentes, humanos, emocionantes, um filme muito bem concebido e que atinge perfeitamente seus objetivos.  8,7