FARINELLI (IL CASTRATO)
Melhor Filme Estrangeiro do Globo de Ouro de 1995 e concorrente ao Oscar (pela Bélgica, embora co-produção francesa e italiana), este filme foi otimamente dirigido por Gérard Corbiau, o mesmo diretor de O mestre da música. Como não poderia deixar de ser, a música é o pano de fundo para os vertiginosos dramas que se passam nas primeiras décadas do século XVIII, envolvendo os irmãos Broschi, um deles mediano compositor e dependente da arte do outro, magnífico cantor e conhecido pelo nome artístico de Farinelli. Carlo Broschi foi castrado ainda na infância para ter preservada a sua tessitura vocal de menino, semelhante à feminina, sendo essa prática cruel mas comum a partir do século XVI, principalmente porque a Igreja Católica não permitia mulheres em seus coros. A existência dos castrati atingiu seu auge nos séculos XVII e XVIII, sendo que nas óperas de Händel – personagem importante no filme, pois representava a rivalidade que havia entre a ópera popular e a do rei e, principalmente, a qualidade perseguida por Farinelli – era comum o papel do herói ter sido escrito para um castrato. Foi só no final do século XIX, início do século XX, que o Papa Leão XIII proibiu a utilização dos castrati no coro das igrejas. Farinelli foi o mais famoso castrato (extensão vocal de três oitavas, garganta ágil, controle extraordinário sobre a respiração…) e o filme retrata os diversos dramas de sua trajetória, seu poder e fascínio sobre as platéias, inclusive as mulheres, em momentos de grande emoção, mostrando que a música que normalmente vem do céu, pode também parecer ter origem no inferno. O ator Stefano Dionisi está soberbo no papel do protagonisa e o filme tem grandes momentos de impacto, notadamente quando chega em sua hora e meia e a perfeição da música parece encontrar a da voz, retratado e realçado esse encontro pela força das imagens. Fotografia, direção de arte e reconstituição de época magníficas. 9,2