ELA (HER)

Este é um filme que trata da evolução tecnológica e dos sentimentos, mostrando a solidão do mundo atual, que mais se acentua com o passar do tempo e a progressiva incomunicabilidade entre as pessoas. De se destacar que com os bens de consumo sendo providenciados ou facilitados por máquinas, cada vez mais o homem se isola e vai interagindo com a inteligência artificial. Vemos aqui a relação do homem com a tecnologia cada vez mais surpreendente e de certo modo aterradora. E acabamos também sendo envolvidos em uma relação inusitada de afeto. Porém, à medida em que o filme avança, a estranheza inicial gera compreensão e até simpatia pelo comportamento do protagonista, maravilhosamente interpretado pelo grande Joaquin Phoenix: o que era estranho dá lugar a uma aceitação e até a um sentimento enigmático, de perplexidade e ternura. E os limites do que não parecia possível se flexibilizam e vem o espanto e até o terror, por se imaginar o estado de coisas e se antever as respostas ou o futuro sabidamente impossível. De um outro ângulo, porém, o filme parece também dizer que o amor que reside no próprio ser (que ama) é o que basta; que esse amor o habita desde sempre e não necessita de manifestações sob forma específica ou convencional. O que faz lembrar do trecho de um poema de Álvaro Augusto Cunha Rocha: “...mas deixe, amigo, que em seu leito de petúnias a doce amada pense que teu amor vem dela, dela precisamente, e não de muito antes”. Também atua no filme a ótima Amy Adams e a voz de Samantha é de Scarlett Johansson. Um filme psicológico dirigido por Spike Jonze (Quero ser John Malkovich), que teve 5 indicações ao Oscar 2014 (inclusive de Melhor filme), tendo ganho o de Melhor roteiro original, de autoria do próprio Jonze. O mesmo prêmio foi ganho por ele no Globo de Ouro, no mesmo ano. Por fim, a derradeira cena dá o recado final e tanto nesse sentido, quanto no da própria imagem que exibe, é belíssima e transbordante de significados. 9,3