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A.I. RISING

Este é um filme de ficção científica para adultos.  E surpresa: é sérvio! Um cinema que às vezes causa alvoroço. Acho que quem tiver paciência para saborear o filme até o fim, será devidamente recompensado. Mas cabe a advertência: é um filme de orçamento de 1 milhão de dólares, com dois personagens, cenário restrito à nave espacial, lento, repleto de sombras e efeitos coloridos…em suma, vai gostar quem com ele se identificar, os demais correndo o risco de achar tudo um tédio. Mas eu gostei demais! Fiquei emocionado, tenso, encantado com o roteiro e na derradeira cena, quando a câmera vai mudando o ângulo da visão da nave, minha vontade foi de aplaudir. E a trilha sonora achei espetacular, fora a história, que realmente testa os limites da natureza humana, conforme anuncia o cartaz. O tema, aliás, até lembra duas produções mais ou menos recentes: Ela e Ex machina, mas aqui são outros quinhentos e o roteiro é baseado em obra literária. Mas pela qualidade e temática, até se poderia imaginar tratar-se de um episódio da série Black Mirror. A viagem no caso é para Alfa Centauro, com apenas dois tripulantes: um macho humano (Sebastian Cavazza, ator esloveno) e uma fêmea androide (Stoya, atriz americana de filmes pornôs). E os desafios e limites que vão aparecendo nessa estranha relação desafiam a natureza do homem, fazendo emergir de forma inesperada desejos e anseios imprevisíveis. Como inesgotáveis parecem também os conceitos cibernéticos. O filme explora com grande sensualidade, sensibilidade e talento as possibilidades e expectativas da interação homem-máquina, inclusive sob a perspectiva da solidão, dos sentimentos humanos e dos instintos puros e selvagens da paixão. Do amor, por que não? Uma experiência rica, inclusive pela capacidade do diretor sérvio Lazar Bodroza (estreando) de jamais cair na vulgaridade. Vivenciamos o desespero para humanizar o que não é humano – para o homem é insuportável a falta de humanidade no androide – e a escravidão que a paixão e o amor podem proporcionar, trazendo o desenrolar do filme vários questionamentos interessantes e a partir de certa parte os fatos ficam bastante difíceis de prever. O final poderá lembrar obras imortais do cinema e da literatura, mas antes o espectador poderá perguntar até onde tudo será suportável? De quanta humanidade, afinal, o amor necessita para ser amor?  9,0