CAROS CAMARADAS (DEAR COMRADES!)
Um bom e bem realizado filme sobre o comunismo russo e suas facetas (notadamente diante de crises) e que concorreu pela Rússia para se habilitar no Oscar de 2021, mas a pré-lista acabou incluindo outra produção do país (Dorogie tovarishchi). Feito em P&B para melhor caracterizar a época, bem reconstituída, aborda os dramáticos, trágicos e chocantes fatos ocorridos em 1962 na cidade de Novocherkassk (URSS), que deram origem a muitas feridas não-cicatrizadas – inclusive para o regime comunista, naqueles tempos sob o comando de Kruschev (na verdade, Nikita Khrushchov, que sucedeu Stalin, morto em 1953) e mudanças de perspectivas na visão de muitos que vivenciaram os fatos, inclusive os até então absolutamente fiéis ao partido e àquele sistema de governo. Não revelando maiores detalhes para não comprometer o desfrute, cabe dizer que o filme é árido e absolutamente realista, mostrando o modo de vida da população e os fatos que se precipitaram a partir de uma redução salarial súbita e imposta que deflagrou um movimento de trabalhadores, em época na qual os preços subiam e o povo estava já descontente, pelas promessas não cumpridas por um regime que prometia total felicidade e equilíbrio: a partir de tais ocorrências, vemos a manifestação popular dos próprios trabalhadores, dos moradores, de integrantes do comando local e as ações oficiais, inclusive com a intervenção da própria KGB, que acabaram tornando o evento algo obrigatório de registro histórico. Um filme com a ótima atriz Julija Alexandrowna Wyssozkaja e dirigido com mãos firmes por Andrei Konchalowski (Paraíso, Expresso para o inferno, Os amantes de Maria, Círculo do Poder, Tio Vânia etc), forte, contundente e que não faz concessões, mostrando que a dignidade básica deve sempre prevalecer, independentemente de qualquer regime, na medida em que é um valor natural e intrínseco de todo ser humano. 8,5