BABYGIRL

Definitivamente, um filme para adultos. Não só pelas cenas intensas, mas principalmente pelo tema abordado. O começo é avassalador e não como se possa supor pelo que se vê no começo da cena, mas pelo seu final impactante: e então percebemos o que realmente ocorre e que a questão de difícil solução será o fio condutor de todo o enredo. Triste e impressionante, mas real a incomunicabilidade (ou a grande dificuldade na comunicação), que segundo os estudos ocorre com a grande maioria dos casais, gerando frustrações e estilos pobres ou sofridos de vida em comum e individualmente falando. Nesse sentido o filme é ótimo, assim como a condução/direção da holandesa Halina Reijn, sendo neste caso muito interessante termos a visão e a compreensão feminina dos fatos. Excelente e essencial a atuação de Nicole Kidman, que se entrega ao papel de forma total e inédita em sua carreira, aliás com extrema coragem considerando sua estatura como atriz, a natureza das cenas e a própria e difícil personagem. E justamente a temática torna o filme polêmico, porque forçosamente ruma para caminhos que se pode questionar moralmente, quando momentaneamente a raiz do problema passa a ser esquecida. Alguns dos bons momentos do filme advêm dos diálogos do casal, sendo o marido muito bem interpretado por Antonio Banderas, que constrói um personagem extremamente humano, fugindo dos estereótipos: e a cena da discussão conjugal mais ardorosa é realmente espetacular, não apenas pela intensidade dramática, mas pela importância e amplitude do que está sendo discutido. Por alguma razão, entretanto, no final se sente que algo ficou faltando para o filme se tornar efetivamente marcante e que se não fosse por Nicole e também pelas cenas fortes seria uma produção a mais, muito mais próxima do comum do que do memorável. Pode ser algum problema no desenvolvimento da trama. Ou na banalidade de eventual subtexto. Talvez, entretanto, parte dessa insatisfação final de parte do público resida no incômodo que o assunto provoca. Seja como for, uma obra acima da média e que merece ser vista. Na parte final – que intencionalmente faz conexão com a primeira cena, porém com diferente abordagem e em outro contexto -, resta apenas a interrogação (ou a saudável discussão) a respeito do significado das cenas que ali são intercaladas e onde aparece o cachorro, que aparentemente simboliza o novo norte de seu dono. 8,7