O CAPITÃO
A história, em bela fotografia em preto e branco, retrata uma farsa (quanto pode durar uma farsa???) e que até se imagina, afinal, ser possível, diante da complexidade de uma guerra. Mas o fato é que o filme é baseado em fatos reais, ocorridos em abril de 1945, portanto poucos meses antes do final da 2ª Guerra Mundial. A primeira cena já impressiona ao mostrar uma perseguição a um soldado desertor (sabe-se depois) que corre desesperado em frente a um pequeno caminhão – o lado negativo da cena é a falta de pontaria dos soldados alemães motorizados, perseguindo um homem a pé e o fato de que este teima em correr exatamente na mesma direção que o carro ! Mas é algo isolado dentro de um filme muito bem acabado. De todo modo, tudo é verossímil porque baseado em algo que realmente aconteceu e segundo uma lógica dentro do razoável, mesmo mostrando um impressionante embuste e que cada vez mais exige destreza e atenção plena do farsante, para não ser desmascarado. E o próprio emaranhado da hierarquia acaba permitindo as engenhosas manipulações de poder, o que passa a ser um atrativo a mais no roteiro, inclusive virando em algumas cenas quase comédia (lembrando, por exemplo, Guerra sombra e água fresta). A par disso, o filme tem um tom absolutamente sério e os horrores da guerra vão sendo mostrados, como as cenas do campo de concentração e a humilhação e violência contra prisioneiros, principalmente os desertores, executados à queima-roupa. As cenas dos assassinatos são quase inacreditáveis e nesse ponto o preto e branco cria uma densidade dramática realmente apreciável. Os ângulos de câmera, assim como os demais detalhes técnicos, são muito bem cuidados e o filme mostra também o quanto o poder vai inebriando quem nele está investido (o farsante se sente invencível), como cria uma obediência cega e totalmente absurda – é hilária e melancólica a cena do capitão de cuecas dando ordens. E continua impressionando o fato de que, mesmo em grande maioria frente aos algozes, os prisioneiros se resignam e humildemente vão se sujeitando à morte certa, sem qualquer reação, fato certamente de grande importância no estudo sócio-psicológico dos fatos da guerra. O filme tem cenas impressionantes (como a das bombas ao final) e que o destacam muito acima da média: uma delas, depois do massacre, quando alguém diz “a bebida é por minha conta!” 8,7