ADEUS, TIO TOM (Addio Zio Tom)

capaEste é um filme – documentário, na verdade – de 1971, que não ficou famoso como deveria, não sendo inclusive muito citado. Talvez por sua temática, talvez por sua acidez. É realmente um filme forte, nos dois sentidos. Mas é também muito original e tece de modo bastante eficaz denúncia crua e visceral contra o racismo e a escravidão – oportuno dizer que houve quem o tenha acusado justamente do contrário: de ser um filme racista. “Tio Tom”, que é o personagem de A cabana do Pai Tomás, é um termo que acabou com o tempo ficando pejorativo, como referência aos afro-descendentes que se acomodaram à autoridade do homem branco. Mas o fato é que este filme, com tons de seriedade, mas com toques de sátira, sarcasmo e cinismo, comenta e relata como nenhum outro a saga da escravidão e do racismo, com foco nos Estados do sul dos Estados Unidos, passando por muitas décadas (antes da Guerra Civil, inclusive). E não parece mostrar caminhos que pudessem ter evitado os acontecimentos. Embora apresente os desdobramentos. Passando pelo tema dos escravos que vinham da África, mostra a maneira como viviam, como o negro era tratado, como eram vistos e comercializados, sendo realmente chocante em sua narrativa e nas cenas. A direção é extraordinária (Jacopetti e Prosperi), assim como a montagem e a narração, que compõem todo um equilíbrio junto com a trilha sonora e a espantosa quantidade e qualidade de figurantes, configurando uma obra realmente perturbadora. Talvez a única coisa que destoe seja o idioma italiano, pela sua aparente distância dos problemas e do espaço enfocado, mas só por isso não deixa de ser bastante recomendável a adultos interessados no tema e abertos a aprofundá-lo ou pelo menos dispostos a questionar os acontecimentos e o próprio racismo e suas causas e efeitos. O filme faz parte dos documentários conhecidos como Mondo Cane. 9,0