À NOITE SONHAMOS (A SONG TO REMEMBER)

Este filme de 1945 é anunciado como sendo biográfico do compositor -clássico- polonês Chopin. Entretanto, de biografia do magistral compositor romântico o filme tem muito pouco, porque os fatos do filme, em grande parte, fantasiam e romanceiam a vida do elegante compositor (refinado em maneiras, contam, e também na harmonização de suas músicas). Obviamente alguns aspectos são verdadeiros, como ser Chopin um prodígio desde menino (aos 8 anos já compunha peças espantosas), sua ida para a França, as apresentações em Paris e em diversas cidades da Europa Ocidental, a fama incontestável que adquiriu, inclusive reconhecida pelos grandes compositores da época, sua aproximação com Liszt (sem, porém, o estreitamento que o filme mostra) e seu relacionamento com a polêmica -e já “feminista” àquela época- escritora George Sand…a leitura da real biografia realçará as grandes discrepâncias. Contudo, tem o filme a grande importância de mostrar, em várias cenas e com a trilha sonora, a grandiosidade da música do compositor, bem como o panorama musical da época, além de en passant alguns aspectos político-sociais mais relevantes. O ator Cornel Wilde interpreta bem Chopin, mas sua indicação ao Oscar foi exagerada, o que talvez não acontecesse se recaísse sobre a atriz Merle Oberen, que apresenta uma George Sand impressionante, realmente gélida e manipuladora: aliás, o personagem de Chopin no filme, durante muito tempo, passa a ser meramente um enfeite, uma marionete nas mãos de Sand, o que não encontra parâmetros na vida real. Já o personagem do veterano ator Paul Muni é um caso à parte: se por um lado ele exagera em algumas cenas e se apresenta bastante caricato, por outro lado é graças a ele que o filme se despe do  tom de seriedade que poderia ter e assume uma leveza que diverte, tons de comédia que tornam a experiência bastante saborosa e emocionante em muitas passagens, notadamente quando associada à beleza e imortalidade das músicas, que presenciamos durante todo o filme.  O diretor foi Charles Vidor (Gilda) e o filme concorreu também nas categorias de Melhor história original, montagem, mixagem de som, fotografia em cores e trilha sonora. 8,0