Mais uma vez sem comentar muito o título em português (ridículo), temos aqui um drama com o ator Cornel Wilde (que interpretou Chopin em À noite sonhamos) e que teve quatro indicações ao Oscar 1946: Melhor atriz, som, direção de arte e fotografia em cores, ganhando nesta última. Realmente, a fotografia do filme é absolutamente deslumbrante, exuberante (em alguns momentos parece até pintura) e tem ainda a seu favor as paisagens das locações e a beleza do elenco, com destaque para as belas Jeanne Crain e principalmente Gene Tierney. Esta última foi com justiça indicada ao Oscar (perdendo para Joan Crawford em Mildred Pierce) e realmente apresenta uma ótima atuação, em papel difícil e de muito impacto: sua personagem fortíssima acaba, na verdade, sendo muito bem definida no final do filme, por Richard (Wilde), em um diálogo com Russel, personagem de Vincent Price (aliás, as cenas do tribunal e o final do filme são empolgantes e emocionantes). O visual todo efetivamente chama a atenção (incluindo os figurinos!) e a partir da primeira cena temos toda a história sendo contada por um advogado ao amigo, cabendo ao espectador acompanhar os fatos e ir assimilando o enredo, montando as “peças” e compondo todos os personagens, que são definidos de forma clara, seja para o bem, seja para o mal, embora a maldade fique de início bem dissimulada, sendo revelada aos poucos, até ficar plenamente escancarada. O drama é tido como noir apesar de colorido, tem romance, suspense e seu foco principal reside na essência (estudo) da alma e na conduta de Ellen (Tierney), a partir de quem tudo gira ao redor (uma fala do pai: “Ellen nunca perde”). Apesar de alguns detalhes de andamento e de sutilezas que poderiam ser tidas como desfavoráveis (como o “batom vermelho que resiste ao tempo, à água, ao sono etc”…), é um filme tecnicamente muito bem realizado e que tem no mínimo uma cena que ficará na memória do espectador (a do lago). Não está catalogado entre os maiores clássicos, mas é um filme de destaque e com muitas qualidades. 8,6
