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SOMENTE DEUS POR TESTEMUNHA (A NIGHT TO REMEMBER)

Um filme feito em 1958, com ninguém muito famoso no elenco (exceto talvez David McCallum, o Illya Kuryakin de O agente da UNCLE), mas que ganhou notoriedade ao contar a história do navio Titanic, em sua viagem inaugural de 1912, como o maior e mais luxuoso navio de passageiros do mundo, orgulho do progresso, da indústria e da vitória do homem sobre as forças da natureza, como dito em um diálogo no início do filme. Antes da megaprodução com Leonardo di Caprio e Kate Winslet, este foi o filme mais famoso e inclusive ganhou alguns prêmios de melhor filme (o Globo de Ouro inclusive). O filme se baseou no livro de Walter Lord e, segundo consta em seus agradecimentos, também em relatos de sobreviventes. Naturalmente isso não é spoiler porque o naufrágio do transatlântico em sua primeira viagem faz parte da história e é do conhecimento de todos. Assistir ao filme vale pelo lado histórico e pela emoção dos momentos finais e dos detalhes: tanto aqueles relativos aos preparativos para a viagem (incluindo a alta sociedade, evidentemente), a comoção que tal viagem gerou na época, como os da própria viagem e do acidente (e posteriores), que naturalmente são os mais dramáticos e significativos do filme. Mas o verdadeiro drama pode-se dizer que se concentra em três fatos: primeiro, talvez por arrogância (diante de um navio inafundável), a falta de cuidados na navegação apesar da área de icebergs e a falta de atenção com os avisos vindos de outro navio sobre o perigo, que foi menosprezado (quando colidiu, o Titanic estava com sua velocidade máxima), segundo, a existência de botes salva-vidas para mil e poucos passageiros, quando o total de pessoas no navio passava de duas mil e terceiro, o desigual tratamento, quando da evacuação, das três classes de passageiros que estavam no navio. Apesar do lado histórico (fornalhas alimentadas a carvão, não existência de plantão de telégrafo, entre os fatos já citados) e de alguns bons momentos, é um filme sem grandes dramas por trás dos fatos que antecederam a batida no iceberg, consistindo em uma narrativa mais pragmática dos acontecimentos. O acidente, diga-se, ocorreu antes da metade do filme, ficando as emoções reservadas aos momentos críticos e finais apenas. Ainda assim, os instantes finais são desesperadores: o momento em que a proa está toda submersa, os do pânico geral, dos passageiros que ainda estão embarcados no momento em que o navio já está afundando (principalmente de terceira classe), as dificuldades mesmo após o navio afundar, com a restrita capacidade dos botes, com a água intensamente fria e a hipotermia etc. Também são motivos para reflexões em um mundo tão pragmático como o de hoje, algumas atitudes, digamos, “honrosas”, de passageiros impassíveis diante do naufrágio iminente, alguns preferindo morrer com dignidade a sair disputando lugar em botes, a dos próprios músicos, que, no “cumprimento do dever”, permaneceram tocando até os derradeiros momentos (fato relatado por muitos sobreviventes). Recomenda-se a quem interessar ler a história real na Wikipédia, no caso extremamente completa quanto ao assunto, demonstrando inclusive que o roteiro procurou o mais possível se aproximar da realidade. Seja como for, sem toda a emoção que poderia ter apresentado em seu todo (justamente desenvolvendo as histórias das pessoas envolvidas), o filme acabou não ocupando o lugar memorável que poderia ter na história do cinema.  7,8