AFTERSUN
Este é um filme que vai, talvez, desagradar a maior parte das pessoas. Porque, sob o ponto de vista do que se espera em filmes, no geral, aqui não acontece nada! Em outras palavras, não há acontecimentos especiais como os filmes costumam mostrar e isso é frustrante para o público geral. A expectativa natural de dramas ocorrendo é quebrada pela frustração, exceto para os que apreciam filmes chamados “de arte”, o que é o caso. O que este filme retrata é simplesmente um relacionamento (invocado pela memória de Sophie, 20 anos mais tarde) envolvendo um pai e um filha pré-adolescente, ambos muitíssimo bem interpretados por Paul Mescal e Frankie Corio. Funciona como uma espécie de crônica, mostrando facetas da relação pai e filha, em um limite de tempo estreitíssimo. Essa é a sua simples e delicada intenção e também sua essência e valor: a aproximação mesmo sendo rápida a convivência, a adaptação de um ao outro, o esforço para a parceria funcionar e todo o amor florescer, todo o contexto que, afinal, nos coloca diante da beleza do que não percebemos, pela passagem veloz do tempo e justamente por se tratar do trivial e da rotina e que são imperceptíveis diante de nosso “piloto automático”. O que o filme faz é nos mostrar a beleza que os olhos têm dificuldade para parar e observar. Disse alguém que nada acontece no filme, porque tem que acontecer conosco ao assistir ao filme. Nesse sentido, embora não seja algo arrebatador e possa até cansar um pouco pela relativa monotonia, o filme entrega sua mensagem com total emoção, talvez principalmente para pais que tiveram essa convivência com filhas e que certamente se identificarão em muitos fatos e principalmente sentimentos. De todo modo, é uma obra feita com verdade e que merece pelo menos o reconhecimento disso e da competência dos intérpretes e da primorosa direção da escocesa Charlotte Wells. 8,0