MATAR OU MORRER (HIGH NOON)

Um faroeste clássico, certamente um dos grandes do gênero e que também se destaca pela originalidade, explorando com generosidade o lado psicológico principalmente do protagonista. Dirigido por Fred Zinnemann (A um passo da eternidade, O dia do Chacal, Júlia, Uma cruz à beira do abismo), foi estrelado pelo grande Gary Cooper, tendo como “mocinha” a bela e polêmica Grace Kelly, também apresentando Katy Jurado, Lon Channey Jr., Harry Morgan e dois atores que viriam a ficar muito conhecidos no cinema: Lee Van Cliff (vários faroestes, inclusive a famosa trilogia dos dólares, com Clint Eastwood, iniciada com a obra Por um punhado de dólares) e Lloyd Bridges (pai dos atores Jeff e Beau Bridges e que além de estrelar várias dezenas de filmes, também fez sucesso na TV, na série Aventuras submarinas dos anos 60). Em bela fotografia em preto e branco numa época em que o cinema já vibrava em fortes cores, apresenta uma trilha que mantém e acentua a tensão por todo o filme, já começando empolgante com a música-tema, que também ficou muito conhecida e que narra a história que será contada ao longo do enredo: a do terrível bandido que volta à cidade para se vingar do xerife, após ser absolvido pela justiça, e que chegará no trem do meio-dia (razão do título original). O roteiro aborda o velho Oeste mas sob um ponto de vista diferente do usual, explorando o lado negro e cruel da natureza humana, desmitificando o heroísmo e fazendo críticas sociais (até mesmo – sutilmente – ao Judiciário). Interessantes os argumentos que personagens secundários utilizam para se eximirem de suas presumíveis obrigações (…e o juiz foi o primeiro a fugir), mostrando que o tempo do uso da força para vencer a razão estava começando a cair em decadência ou pelo menos ser questionado. O roteiro igualmente mostra o vazio e a indiferença com os quais às vezes podem se defrontar os princípios e o senso de dever, na realidade sendo este filme uma poderosa metáfora da própria vida! Interessantes também a imagem repetida dos trilhos, intensificando a chegada do perigo e a própria cena da estação, que, incluída a gaitinha de boca, foi lembrada uma década e meia depois no filme Era uma vez no Oeste, provavelmente como uma homenagem feita a este filme por Sérgio Leone. Outro fato curioso e criativo é o tempo real coincidir com o tempo do filme, especialmente quando o relógio mostra a contagem regressiva para o seu momento crucial. Apenas a parte final do filme foi criticada por alguns, que a consideram muito “apressada”, se considerado todo o contexto anterior.  Produzido há mais de 60 anos (1952) é um exemplo de grande cinema e que, ademais, permanece atualíssimo! 9,5