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THE OUTFIT

Os mais antigos saberão identificar perfeitamente a elegância e a liturgia da atividade de alfaiate, muito comum antigamente e que depois foi trilhando o caminho da extinção. O personagem de Mark Rylance (ator que ganhou o Oscar em 2016 de Coadjuvante por Ponte dos espiões) esclarece as razões desse declínio, sem deixar de enobrecer a função, inclusive definindo sua arte não como a de um alfaiate, mas sim como a de um artesão, executando algo que vai além de meramente cortar e costurar tecidos.  E não há como negar tanto a nobreza dessa profissão, como o desempenho soberbo de Rylance, que incorpora um difícil personagem com todas as suas nuances e riquezas. Performance digna até de um Oscar. Mas na verdade todo o elenco é ótimo, com destaque para a recepcionista interpretada por Zoey Deutch e para o chefão desempenhado por Simon Russel (apesar da relativamente rápida aparição). Nesse ponto, o filme também revela seu fascínio, porque não só tem um elenco reduzido embora competente, como toda a ação se passa em um ambiente único e reduzido: dentro de uma alfaiataria, nos anos 50, em Chicago. Mérito do diretor do filme, Graham Moore, que também elaborou o excelente roteiro, ele que justamente pelo melhor roteiro foi premiado com o Oscar em 2016 pelo filme O jogo da imitação. O bem engendrado, inteligente e criativo texto, que às vezes parece um jogo de xadrez, apresenta várias reviravoltas, reservando algumas surpresas e mantendo sempre um clima de suspense no ar. A trilha sonora é maravilhosa, pontuando com total adequação os momentos sérios, de picardia ou de intenso drama (o tom não é pesado, mas há cenas densas e até violentas). Há muitas cenas ótimas – como o diálogo entre o chefão e o artesão, onde se faz um paralelo entre a vida do crime e a dos tecidos e das roupas – e impressiona o equilíbrio e a harmonia de todas as peças, que aos poucos vão aparecendo e dando sentido ao todo. Algo a ser realmente degustado, por sua qualidade, refinamento e originalidade. 9,3