LÁGRIMAS TARDIAS (TOO LATE FOR TEARS)
Este filme, dirigido por Byron Haskin (Guerra dos mundos, Selva nua, Capitão Sinbad – de 1963, com Guy Willians), tem instantes movimentados e cresce bastante em sua parte final, mas tem concepção simples e vários defeitos, embora também qualidades que recomendam sua visão, até mesmo considerada a ótima safra de produções de 1949. Marca importante é sua fotografia escancaradamente noir, do que não destoa o próprio enredo e o caráter dos personagens ( estilo ou sombras que desafiam o american way life). Porém seu mérito maior está no desempenho da aparentemente frágil Lizabeth Scott (1,60m, Confissão, O tempo não apaga, A filha da pecadora), que cresce consideravelmente ao desempenhar uma das personagens superlativas em termos de mau caráter da história do cinema, embora acrescente a isso o ingrediente de femme fatale: a personagem Jane Palmer, bela e de faiscantes olhos claros, ao mesmo tempo em que faz esses olhos sorrirem seduzindo (com um sorriso quase inocente, levemente dentuço, como se fosse o de uma dona de casa comum), dirige-os também e com astúcia e mira aos seus propósitos escusos, migrando do interesse ganancioso às ações frias e quase psicopatas. Palmer é ambiciosa, interesseira e inescrupulosa e concorre ao lado das personagens mais maquiavélicas que o cinema já construiu, certamente estando entre as campeãs da maldade concentrada: demônio com pele de cândido anjo. Entre os defeitos do filme está o de não ter uma harmonia em toda a sua estrutura, às vezes pecar em seu desenvolvimento, inclusive contra a coerência da história e com o comportamento improvável de alguns personagens; em sua várias inconsistências, traz uma trama muito simples e que finaliza de uma forma muito fácil e banal, politicamente correta e lamentável sob o ponto de vista cinematográfico. Não resistiu ao tempo, mas tem as citadas qualidades, além de alguns momentos que valem a pena, entre os quais a atuação da chamativa atriz argentina Kristine Miller (cuja exuberância resplandece sobre Scott claramente, nos momentos em que contracenam) e o mistério que envolve até o final o personagem desempenhado pelo ator Don De Fore (Hazel). Quanto ao restante do elenco, mostra-se apenas regular: o ator Arthur Kennedy, por exemplo, é meio apático e Dan Duryea (Almas perversas, Winchester 73, Um retrato de mulher), de quem nunca gostei, apenas esforçado e sem carisma algum, apesar da fama e dos inúmeros filmes que fez. 7,8