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CYRANO

Pelo cartaz do filme já se vê que o ótimo realizador Joe Wright (O destino de uma nação, A mulher na janela, Hanna, Desejo e reparação) recriou ousadamente o par masculino do trio da famosa história Cyrano de Bergerac, do poeta e dramaturgo francês Edmond Rostand (encenada em Paris pela primeira vez no final do século 19 e tornando célebre seu autor). Porque o guarda é interpretado por um ator negro e Cyrano por um anão, no caso o nosso conhecido e premiado Peter Dinklage de Game of Thrones (Tyrion Lannister), que também tem um respeitável currículo cinematográfico (Eu me importo, Como se tornar um tirano, Morte no funeral). O detalhe é que esta versão envolvendo o trio “amoroso” Roxanne-Cyrano-Cristiano, uma comédia musical com tons dramáticos, apesar da ousadia, deixa no espectador a impressão persistente de algo que “desejava ser grande, mas não consegue”. Pelo menos até a sua parte final, quando finalmente se torna algo marcante e digno de toda a produção e da ideia executada. Mas a grande parte do filme é composta por interpretações não tão convincentes e até meio caricatas e números musicais bem executados, mas embalados por músicas de uma incômoda pobreza disfarçada: no filme todo, com duas ou três raras exceções, não há uma música bem construída, a grande parte delas parecendo que a melodia foi feita sem grande inspiração sobre letras já prontas e que seriam a efetiva preocupação (ou seja, passar a mensagem da escrita, deixando de lado a beleza melódica, como se não devessem atuar harmonicamente). Há bons momentos, mas mesmo as danças não têm nada de novo nem uma criatividade especial, sendo em sua maior parte triviais. O filme, assim, soa predominantemente pretensioso e, pois, cumpre apenas modestamente com sua missão, não estando à altura da grandiosidade da obra que o inspirou. Todavia, em sua parte final, acaba contradizendo todo o conteúdo anterior, como se de repente “acordasse” de seu marasmo. E parece finalmente algo palpável, em todos os sentidos: desde a dramaticidade indispensável do elenco, quanto as músicas e a trilha sonora, tudo passando a ser muito bem elaborado e gerando, então, a emoção que estava latente. E justamente por tais momentos é que o filme, finalmente, torna-se merecedor de alguma apreciação, embora em seu âmbito geral não exceda o limite das boas intenções. 7,8