A MÃO DE DEUS

O universo de Paolo Sorrentino (A grande beleza, A juventude, Loro) é ricamente composto de personagens variados, típicos ou exóticos, exalta a arte de contar histórias e aqui no caso presta um tributo à cidade onde o diretor nasceu e da qual saiu somente aos 37 anos: Nápoles. E ao mesmo tempo em que enaltece Nápoles, Sorrentino presta também homenagem a toda a Itália e aos italianos, destacando seus costumes, língua, comida, crenças, passatempos (o mar e a juventude!!!), amores e aqui especialmente o futebol, pois o título do filme faz referência direta a Maradona (personagem divino para os napolitanos) e à famosa frase que disse após ter sido validado seu polêmico gol contra a Inglaterra, na Copa do Mundo de 1986, gol que ficou conhecido justamente como La Mano de Dios (e que aqui recebe uma inusitada conotação política, por parte do personagem do renomado ator Renato Carpentiri). É mais um filme bem ao estilo do diretor, que é certamente um discípulo de Fellini e que enriquece seus filmes com uma miscelânea de imagens e emoções, cenas imprevisíveis, inesquecíveis, recordações, fatos chocantes como a própria vida traz, mas também uma realidade reinventada, ao lado da realidade escancarada, onde o estranho convive com o comum, a poesia com a crítica social. É um diretor original e sempre surpreendente e que aqui desfila memórias, tipos e sentimentos, em torno de um rito de passagem do personagem de Filippo Scotti, com destaque para a sua eterna musa, a tia Patrizia (Luisa Ranieri). E como não poderia deixar de ser, o filme tem a presença do infalível ator favorito de Sorrentino – e que praticamente atuou em todos os seus filmes -, que é o excelente, carismático e extremamente simpático Tony Servillo. Não vai agradar a todos os gostos (pois Fellini também não agrada), mas é algo diferente e cinema de primeira qualidade. Produção Netflix, já premiada e indicada a inúmeros prêmios.  9,0