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A JUVENTUDE (YOUTH – LA GIOVINEZZA)

Como se trata de uma revisão de filme (com a ampliação da nota original), primeiramente repriso a resenha anterior e depois a complemento: Paolo Sorrentino é o diretor de A grande beleza, filme que ganhou o Oscar 2014 de Melhor filme estrangeiro. Esse fato já o credencia e indica, de antemão, que estaremos diante de algo original e com qualidade (edição, fotografia, roteiro, trilha etc.). Porque esse cineasta tem uma visão diferenciada da vida e do próprio cinema e um cuidado muito grande com o aspecto visual e com o nível de mensagens e críticas que passa, muitas vezes de forma sutil. Neste caso, a história transcorre quase que inteiramente em um luxuoso hotel nos alpes suíços e os principais nomes do elenco dispensam maiores comentários: Michael Caine, Harvey Keitel e Rachel Weisz (ainda tem Paul Dano e Jane Fonda). No referido hotel algumas pessoas tratam da saúde – Maradona aparece em alguns momentos do filme, com um sobrepeso impressionante! – e outras simplesmente descansam, incluindo idosos, fato que explica o título, já que muitas reflexões vão ocorrer nas conversas rotineiras dos dois grandes amigos (o maestro, Caine, e o cineasta, Keitel) e outras envolvendo a filha e assistente do primeiro. Reflexões que vez ou outra se dão diante de paisagens majestosas e deslumbrantes. É um filme que foge do trivial, do cinema comercial, que talvez não seja tão adequado aos mais jovens, mas que, de todo modo, é feito para ser degustado aos poucos, saboreado em suas sutilezas e na delicadeza de seus aprofundamentos. E é disso que nos damos conta ao seu final, quando percebemos, pela emoção sentida com a cena e com a música, que estamos com os sentimentos acumulados, contagiados que fomos aos poucos e ao longo do roteiro, pelos gestos, reticências, pensamentos, conflitos, pelos fatos da própria vida…e é quando atestamos, afinal, a qualidade de seu conteúdo. Na verdade, depois desse filme de 2015 Sorrentino dirigiria Loro e entre outros o recente A mão de Deus, inscrevendo de vez seu nome como um dos melhores e mais originais diretores do cinema moderno, claramente um discípulo muito talentoso de Fellini. Seus filmes têm uma magia estética extraordinária e aqui ele alcança a perfeita conexão entre os pensamentos filosóficos que abrilhantam seus textos e a ação, sem a complexidade (no caso sinônimo de falta de clareza) de alguns filmes, como ocorreu com o próprio e premiado A grande beleza. A juventude e a velhice ganham aqui um tratamento estupendo, de sensibilidade e ao mesmo tempo de realidade e o lirismo povoa em torno de momentos realmente tão fascinantes quanto inovadores, além de notáveis instantes de um refinado senso de humor. Elenco espetacular, locações lindíssimas e uma fotografia e trilha sonora com o acabamento primoroso de sempre. Um cineasta singular, que elabora e mistura recortes de vida, de personagens reais (Madame Ardant em uma cena…) com imaginários, mundanos, do cinema, da arte, da literatura, com total propriedade e coerência e aqui desaguando esse universo rico e atraente em um final tão significativo quanto de tocante beleza. 9,5