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WIND ACROSS THE EVERGLADES (JORNADA TÉTRICA)

O título em português seria impróprio para o filme, se não fossem alguns detalhes, inclusive da produção: porque o diretor Nicholas Ray acabou se incompatibilizando com o protagonista (Christopher Plummer) e com o roteirista (Budd Shulberg) e foi simplesmente demitido antes do final das filmagens, que por estarem na parte final puderam ser finalizadas pelo próprio roteirista e pelo elenco em atuação conjunta inclusive. Fora esse aspecto não usual, o roteiro, no todo, também é algo que chama a atenção pela mistura de coisas, alternando boas e más sequências, entre fatos de duvidoso bom gosto. No sentido acima, o nome em português foi acertado, de resto sendo péssimo como sempre. As atuações são muito boas. Plummer, o premiado e ainda atuante e ótimo ator, fazia seu primeiro ou segundo filme, sete anos depois vindo a ficar mais conhecido por A noviça rebelde e mais tarde por inúmeras outras produções, inclusive séries de TV (Pássaros feridos). Burl Ives, que era ator, escritor e cantor de música folk americana, faz um papel de destaque e mostra ser bastante talentoso: no ano seguinte, em 1959, seria premiado com o Oscar de Melhor ator coadjuvante pelo filme Da terra nascem os homens (The big country), também ganhando o Globo de Ouro pelo mesmo papel. Em papéis menores, porém satisfatórios Gypse Rose Lee e Chana Eden não decepcionam e outra estreia no cinema é a do ótimo ator Peter Falk (o Columbo). O detalhe é que este é um filme muito estranho, exótico mesmo, que tem uma introdução original (aliás, algumas cenas bem originais), trata de ecologia –no caso, o extermínio maciço de aves para venda das plumas que ornamentavam os chapéus das damas-, apresenta tensão e drama, mas mistura anarquicamente os fatos e até as cenas, tudo levando a crer que têm razão os críticos que diziam que Nicholas Ray sempre teve problemas na edição de seus filmes. Em certo sentido, o filme parece às vezes “uma bagunça”, considerada a harmonia esperada em um filme. Mas o fato é que apesar de toda a miscelânea de coisas, o filme acaba sendo interessante em seu contexto final. Há ótimas cenas de drama e ação, trechos em que a trilha sonora está muito bem colocada, imagens atraentes e um clima muito interessante de mistério selvagem (inclusive com várias espécies de animais aparecendo, como cobras e crocodilos), principalmente porque toda a paisagem é peculiar, já que foi inteiramente rodado na Flórida, leia-se, nos everglades, fato que em nada contribuiu para facilitar o andamento das filmagens e talvez tenha também ajudado na demissão do diretor. Também acaba ficando interessante o “duelo” (inclusive na bebida) entre o “mocinho” e o “rei dos bandidos”). É um filme difícil de definir e que nos provoca sentimentos conflitantes, também de complexa definição: que aparecem quando o bom e o mau gosto se juntam e produzem algo que de certo modo agrada ou atrai! Portanto, pode ser do agrado de alguns e de firme rejeição de outros. O cineasta François Truffaut disse que se trata de um filme doente.   7,9