VENCER (VINCERE – 2009)

Filme de grande qualidade e força, fatores que neste caso justificam inclusive sua eventual inclusão em listas dos 100 melhores do cinema. Vigoroso, principalmente em sua condução (pelo veterano Marco Bellocchio, também autor do ótimo roteiro), interpretação e trilha sonora (poderosa e emocionante), mas também com méritos no som e na fotografia/filmagem, inserindo trechos em preto e branco com cenas da vida real e que constituem preciosos registros históricos, já que contemplam o período fascista da Itália, que durou de 1922 até o final da Segunda Guerra, mas que foi fundado por Benito Mussolini em 2019: pouco tempo depois e após ter sido nomeado primeiro ministro em 2022, passou a ser conhecido como “Il Duce” (o líder) e a influenciar e dominar multidões, tanto em razão do regime totalitário instituído, como também por seu discurso recheado de narcisismo e argumentos patrióticos. Embora não tão aprofundado nas questões sócio-políticas – que não é seu foco -, o filme mostra fatos que raras obras contemplaram e no mínimo vale como uma boa aula de história, embora seu tema principal não seja exatamente o ditador fascista, mas sim a personagem interpretada magnificamente pela premiada Giovana Mezzogiorno, que desde os tempos de L´ultimo baccio (2001) e O amor nos tempos do cólera (2007) já se mostrava uma excelente atriz – na época de Vincere ela tinha 35 anos. Se são impressionantes as imagens reais do líder aclamado e do movimento popular da época, também o são as que pertencem ao filme e que mostram os contundentes e perturbadores dramas humanos que envolvem opressão, violência, desespero e privações e que há não muito tempo estavam à margem da própria História (nesse ponto, um mérito a mais do filme). Entre as cenas que se destacam, e possuem grande significado no contexto, merecem menção as do filho imitando o pai, sendo que mais ao final, em situação precária, a imitação soa como um grito de horror, triste e patético e ao mesmo tempo bizarro e tenebroso. Em meio a muitas virtudes, porém, o ponto negativo é a retratação do Mussolini mais jovem, feita por Felippo Timi: ele exagera no gestual e no comportamento e de modo algum se assemelha ao líder fascista, seja pela fisionomia, seja pelo próprio porte: além disso e principalmente, não há nele os elementos facilmente visíveis quando vemos o ditador discursar, embriagado com ele mesmo. 9,1