UM LUGAR BEM LONGE DAQUI (WHERE THE CRAWDADS SING)

Com imagens esplendorosas, acompanhadas de uma trilha sonora perfeita para elas, a abertura do filme nos localiza onde tudo vai se passar (e de certa forma nos prepara): nos pântanos da Carolina do Norte. Mas já de início adverte: “O brejo não é um pântano. O brejo é um lugar cheio de luz…” E vamos ser iluminados por essa luz, embora também impregnados pelas sombras, da violência, do ódio, da rejeição, do egoísmo, da intolerância, do preconceito. Estamos diante da história da “Menina do brejo”, adaptada do best seller popular de mesmo nome, escrito por Delia Owens e que vendeu mais de 12 milhões de exemplares. A direção da americana Olivia Newman é segura e competente. E deve ser registrada a participação do grande ator David Strathaim , assim como a atuação satisfatória da atriz Daisy-Edgar-Jones, como protagonista. De negativo, pena que a bela música “Carolina” da Taylor Swift não tenha ganho o destaque que mereceria, nos pontos vitais da trama. Às vezes também se sente alguns vazios de roteiro ou falta de um melhor desenvolvimento de situações e de alguns personagens, que poderia haver mais cenas de natureza, maior dramaticidade da protagonista em alguns momentos. Mas pode ser de fato o que geralmente ocorre em face das dificuldades de se adaptar um longo texto literário para o cinema. Todavia, as oscilações de romance para drama, de drama para mistério acabam mantendo o interesse e o melodrama na grande parte das vezes consegue ser habilmente evitado/contornado. E algumas imagens (inclusive dos belíssimos livros ilustrados) enaltecem com majestade o poder e a beleza da natureza, principalmente quando a ela se integra o ser humano, amoroso e respeitoso. Os clichês aqui trabalham em sua maioria a favor do drama e a história é construída com algumas reticências em torno de um mistério maior, que acaba sendo o foco central de toda a sua parte decisiva. Que é quando, subitamente, tudo se intensifica e sobressai a força do texto. E sentimos como se esse epílogo extraordinário redimisse qualquer defeito anterior. É um final espetacular tanto nas palavras, quanto nas imagens: belíssimas plasticamente, surpreendentes, tocantes (e isso inclusive nos leva a imaginar como será especial a leitura do livro) ! É um fecho feito a caráter para emocionar, meio novelesco até, porém tem efetivamente o mérito de nos causar o impacto das grandes obras: aquela sensação do indefinido ou do aperto no peito, que perdura ainda por um bom tempo depois que o filme termina. 8,9