PK

Os indianos possuem uma fisionomia única, principalmente na cor da pele. Mas seu cinema também é único e sua indústria cinematográfica é a maior do mundo, tendo um público fiel que ainda lota todas as salas de exibição. Os filmes indianos, regra geral, têm muitas cores, movimento, música, ação, romantismo e abordam com alegria e descontração assuntos gerais, inclusive sociais sérios, causando no espectador ocidental, muitas vezes, uma espécie de desconforto pelos contrastes que apresenta, entre o bom e o mau gosto: não é incomum a uma cena dramática seguir-se outra bizarra ou de pastelão, por exemplo. Mas possui recursos técnicos e seus atores, atrizes e diretores têm elevada qualidade artística. Neste caso, pode até ser que essa miscelânea toda seja um recurso para se transmitir uma mensagem que aqui é bastante desafiadora, de uma forma mais amena: exatamente conforme o filme ensina, no sentido de primar pela sutileza ao se denunciar fraudes de grande repercussão. Mas esta produção inusitada – de 2014, em idioma hindi e dirigido por Rajkumar Hirani – se enquadra no que foi exposto, porém com dois diferenciais a mais: a fantasia agregada ao drama com comédia e a coragem, até audácia, de bater de frente com instituições sagradas e apresentar contundente crítica social e às religiões, notadamente em um país cuja religiosidade é acirrada e perpetuada pelos tempos e gerações. A história, assim, é muito interessante, pelo tema, pela diversidade dos elementos e pela imprevisibilidade, tudo isso nos provocando uma variada gama de emoções, sendo que na parte final do filme é difícil até conter as lágrimas (para os mais sensíveis, claro). Uma experiência muito agradável, portanto e que no caso propicia ainda importantes questões sociais e filosóficas para serem pensadas e debatidas. Apenas achei destoante a composição física do personagem “Tonto” (que é o PK e que dá título ao filme), por sua aparência estranha, exagerada e agressiva. Entretanto, talvez esse fato (proposital, provavelmente) acabe sendo positivo, ao nos obrigar a conviver com “o que é diferente”, neste caso valendo também como lição: até porque com o passar do tempo acabamos acostumando com tal aparência inusitada, principalmente considerando o conteúdo de sua proposta. Essa questão à parte, o grande destaque do filme, por sua beleza, simpatia, carisma e bela e natural interpretação é a atriz Anushka Sharma (com 35 anos), que também é produtora e uma das artistas mais bem pagas do cinema indiano. Produção Netflix. 9,0