PINÓQUIO (PINOCCHIO – animação)
Sempre achei, desde criança, Pinóquio o desenho mais perverso da Disney, o mais tenebroso, de longe o mais assustador de todos. Há muitos momentos em que efetivamente seus destinatários não são as crianças, mas os adultos. E certas cenas para as crianças certamente representam verdadeiros momentos de terror. Esse sentimento se confirma agora, com esta extraordinária animação dirigida por Guillermo del Toro (A forma da água, O labirinto do Fauno, O beco do pesadelo, Hellboy) e com o carimbo Netflix (e outras produtoras e produtores associados). É a famosa e conhecida história de Geppetto e seu boneco de madeira, construído pela perda do filho Carlo, mas aqui com grande foco na história original do século 19 (de Carlo Collodi), sendo algo muitas vezes triste, outras vezes até cruel e sombrio. Nada adequado a crianças, portanto, em vários momentos, como os de alguns encontros do boneco com a “fada” azul, com o vilão, com os nacionalistas (inclusive armados), as cenas com o monstro marinho e assim por diante. Mas deve ser enaltecido em seu conteúdo moral, geralmente representado pelo icônico grilo falante e também por algumas cenas de grande conteúdo dramático e emocional, principalmente na maravilhosa parte final. Em termos de qualidade técnica, porém, é impressionante a perfeição desta animação, em todos os sentidos, tanto artisticamente, quanto em ritmo e desenvolvimento. E a parte final é realmente extraordinária e emocionante, enaltecida ainda pela bela trilha sonora que emoldura toda a história, sendo que uma das músicas concorre ao Globo de Ouro desta noite, 10 de janeiro de 2023. E não é à toa que a animação também concorre na categoria de Melhor filme – animação. Também merece destaque o fato de que as vozes deste belo trabalho, na versão original, são de vários artistas conhecidos, como Cate Blanchett, Tilda Swinton, Ewan McGregor, John Turturro, Christop Waltz e Ron Perlman. Como uma animação, o filme merece a nota máxima, mas como diversão, que é o que conta aqui, a cotação é outra, que leva conta o fato de o enredo ser por demais conhecido e reprisado (a partir do original de Disney, de 1940), o lado sombrio do roteiro, mas também a parte final, resgatadora. 8,8