OS 7 DE CHICAGO (THE TRIAL OF THE CHICAGO 7)
Produção Netflix e que acaba de ganhar o prêmio de Melhor roteiro em drama no Globo de Ouro de 2021. Provavelmente será um forte candidato a alguns Oscars. O filme foi dirigido esplendidamente pelo também roteirista Aaron Sorkin (aclamado) e enfoca o ano de 1968, que foi o dos assassinatos de Martin Luther King, Bobby Kennedy, da eleição de Nixon e principalmente da intensificação da luta pelos direitos civis e dos protestos contra a Guerra do Vietnã (o velho e doloroso espinho!). Nesse cenário, um protesto que deveria ter sido pacífico -com foco também na convenção democrata que acontecia- acaba virando um confronto violentíssimo com a polícia e daí resultou o fato que é objeto de todo o filme: o julgamento dos supostos líderes de movimentos organizados e antipatriotas (título original), que organizaram e estimularam a manifestação e a violência. O que vemos aqui é uma atuação soberba de todo o elenco, uma perfeita reconstituição de época, uma aula de direção e edição e também de história dos Estados Unidos, expondo o racismo institucional e gerando no espectador, ao longo da exibição, os mais variados sentimentos, principalmente os de absoluta indignação e revolta. É de se pensar que se os fatos ocorreram exatamente conforme mostrados (e ao que tudo indica, sim, até porque nos créditos finais ficamos sabendo o destino dos personagens), retratam um absurdo quase inimaginável dentro de um governo organizado e de um sistema jurídico que se definia como democrático e justo, protetor das liberdades individuais. O elenco é formado por Frank Langella (espetacular como o magistrado condutor do julgamento), Eddie Redmayne, Sacha Baron Cohen (surpreendente com sua atuação longe do humor escrachado), Jeremy Strong, Mark Rylance (excelente como advogado de defesa), Joseph Gordon-Levitt (também excelente como o promotor que mantém limites de conduta ética), Yahya Abdul-Mateen II (ótimo, sendo ele o oitavo homem – que seria o título original do filme), Alex Sharp, Michael Keaton, John Carrol Lynch etc. Não simpatizo muito com o ufanismo americano presente em tantos filmes, mas aqui o contexto permite aceitá-lo legitimamente e valorizar as emoções que se intensificam na parte final do filme, com um fecho realmente memorável. 9,3