ONLY THE ANIMALS (SEULES LES BÊTES)

Um filme estranho. Francês de arte, pode-se dizer. Mas diferente. E esse fator pode prender a atenção, porque sem dúvidas fugir do lugar-comum é sempre uma virtude, inclusive no cinema. O filme nos leva por caminhos que não compreendemos bem e isso é bastante atraente. Vamos acompanhando os fatos e personagens, sem saber o motivo e também não antevendo bem para onde estamos sendo conduzidos. O título deste filme até poderia ser “conexões”, de modo que com isso talvez pudéssemos digerir mais facilmente o que nos é mostrado. Todos nós temos ao nosso redor um sem número de vínculos pessoais, alguns perceptíveis, outros desconhecidas. Certas ligações que existem inclusive jamais saberemos, provavelmente a maioria. Não é raro encontrarmos alguém que conheceu alguma pessoa que por sua vez era ligada a outra que tinha alguma conexão conosco ou com nosso pai, por exemplo. O irmão do amigo do açougueiro da esquina pode ter sido namorado da sua prima, lá perto da cidade onde você nasceu e você nunca saberá disso. Por mais insuspeitas que sejam, por mais improváveis ou inacreditáveis, as conexões existem e o filme mostra isso, forjado em torno de acontecimentos que misturam drama, romance, suspense, crime. Talvez algo que poderia ser mais bem lapidado, mais consistente, mais coerente pelo percurso e não apenas no final da caminhada, nas cenas finais, que efetivamente esclarecem as dúvidas e tornam o filme, afinal, muitíssimo interessante. Inclusive porque percebemos, no que passou até ali, diversos meandros fascinantes e ao mesmo tempo cruéis sobre a natureza humana. Algo fora da rotina, enfim, um bom programa para quem quer sair um pouco dos cardápios de fácil mastigação. 8,0