O SEGREDO DAS JOIAS (THE ASPHALT JUNGLE – 1950)

Este thriller policial noir foi muito bem conduzido pelo também ator e homem de múltiplos interesses John Huston (pintura, escultura, caça à raposa, boxe etc) – que anos antes havia dirigido Relíquia macabra (O falcão maltês) e O tesouro de Sierra Madre e ainda daria ao cinema muitas pérolas, como, por exemplo, Uma aventura na África, Adeus às armas, O céu por testemunha, Roy Bean – o homem da lei, O homem que queria ser rei, Os desajustados. O título traduzido deste filme, para variar, é ruim, mas curiosamente o adotado em Portugal e não o original acabou se mostrando mais coerente com o enredo: Quando a cidade dorme, porque as temáticas da história se relacionam todas com o crime e basicamente com acontecimentos da noite e da madrugada. Seja como for, trata-se de um bom filme, mas não de algo marcante ou um dos melhores do gênero. Entretanto, sua parte final se distingue por ser muito superior à porção anterior do roteiro, principalmente pela inverossimilhança de algumas situações na primeira metade (o furto, por exemplo, é de uma singeleza inconcebível mesmo para a época). Próximo ao seu desfecho, apresenta cenas e diálogos muito bons, inclusive colocando em palavras o que o filme mostrou em imagens claras e fortes, a respeito da corrupção policial, opondo a isso a posição dos bons agentes da lei e a realidade da população (a cena na delegacia). E tudo culmina de uma forma que não causa surpresa pelos fatos em si (afinal, as cenas envolvem um criminoso e estamos na década de 50), mas pelo modo poético/significativo desse fechamento. Estrelado por Sterling Hayden – que quatro anos depois faria o personagem Johnny Guitar, no famoso faroeste com Joan Crawford -, tem alguns nomes conhecidos como de Jean Hagen, James Whitmore e Sam Jaffe – que dá muita elegância (e precisão) ao personagem que interpreta -, mas a grande surpresa é Marilyn Monroe, que atua apenas cerca de 5 minutos, se somadas as cenas do início e do final de que participa, mas sua imagem ocupou todos os cartazes e as propagandas de divulgação do filme (por razões óbvias). Paradoxalmente, seu nome não aparece nos créditos do filme e a explicação é de que tal fato era muito comum na época, para atores e atrizes que faziam papéis secundários, ou seja, seus nomes simplesmente não eram creditados. Com Marilyn isso inclusive já havia ocorrido em dois ou três filmes anteriores, mas após este filme ela passou a ascender na carreira e a ficar famosa e a virada ocorreu no filme seguinte, em 1953, Niagara, a partir do qual seu sucesso foi consolidado, inclusive como sex symbol, virando então a estrela de grandes sucessos, dois deles naquele mesmo ano: Os homens preferem as loiras e Como agarrar um milionário. 8,2