O NOVÍSSIMO TESTAMENTO (LE TOUT NOUVEAU TESTAMENT)

the_brand_new_testament_poster_-_p_2015Este filme é algo insólito, estranho. Uma fantasia. Mas na verdade muito inteligente – e tão inteligente, quanto irreverente. Questiona o ser humano, debocha da religião, dos medos, da sociedade e das suas amarras. Filosofa sobre a vida e o destino. Desfila pílulas de criatividade… Isso tudo a partir de um Deus humano, machista, opressor e perverso, residente em Bruxelas e que só opera por meio do computador, tendo o desgosto de ter tido um filho que passou a doutrinar por conta própria, pregando indevidamente o bem. Um texto ácido e repleto de imagens criativas, devaneios poéticos, com música de sonho de fundo (infantil mas com mistério) e narrativa da menina, filha de Deus, que é a protagonista (que sabe qual é a música que cada pessoa tem e também coleciona lágrimas). Recursos típicos do cinema francês. Tudo impregnado de um humor cáustico. Exemplo: a menina diz que é irmã de JC e o velho pergunta: “JC de Jean Claude Van Damme”? Imaginemos o que aconteceria se cada um de nós soubesse o momento preciso de sua morte! O medo dela certamente desapareceria, outras seriam as religiões, os relacionamentos, a maneira de ver o mundo, de agir…E o filme brinca: “os corretores de seguro deixariam de ter utilidade”! E tudo parece, afinal, nos dizer o tempo todo: “liberte-se das suas prisões, de agir como os outros esperam, seja feliz”! Os diálogos do filme têm bastante riqueza e a mudança de cenário e enfoque é uma constante. Quase uma viagem, poeticamente. Um quase non sense permanente. O imprevisível. Os detalhes, os recursos de câmera…(alguns quase teatrais), o visual… Na parte final, algo bem surrealista, mas belo e tocante, enquanto se ouve “Tombe la Neige” (de Salvatore Adamo). Sensacional como as coisas se desencadeiam para chegar ali. Assim como o destino de Deus…E após todos os créditos (demorados), uma cena a mais, fechando “com chave de ouro”. É algo realmente diferente e que se assemelha muito ao estilo de “Amélie Poulin”, ou seja, “muito mais para amar do que para desamar”.  8,5