Quantos filmes já vimos em que os americanos exageram na celebração de seus valores, enaltecendo a honra, a coragem, o heroísmo etc, as bandeiras tremulando nas casas? E outros também ufanistas, só que com um pouco mais de discrição? Muito comum isso e inclusive motivo para rejeições e irritações de parte do público e da crítica. Este filme de 2021 não é exagerado, é sério, mas é russo e promove o tal “ufanismo”, podemos dizer um “americanismo ao inverso”. Produção de 2021, enfoca o famoso Campeonato Mundial de Xadrez de 1978, em relação ao qual não faltam bons temas para abordagem e debates. A disputa se deu entre dois baluartes do xadrez russo, o campeão mundial da época, Analoly Karpov (russo) e seu desafiante, Viktor Korchnoi (também russo), sendo que teria sido o campeonato mais dramático da história do xadrez, pois o jovem campeão defendia seu título frente a um antigo mentor e simplesmente desertor soviético (para o Ocidente). O filme espelha um emaranhado de situações e “movimentos” (e não apenas os das peças do xadrez), envolvendo segredos obscuros, intrigas, manobras políticas e explora os cenários “atrás do pano” do regime soviético, trazendo com isso um clima instigante e permanente, de mistério e tensão. Karpov tem problemas familiares, confronto com a CIA, pressões do partido etc. São fatos intensos, com fisionomia de reais, e o filme extravasa o lado do regime e da política reinante, mas também funciona como um thriller, pelo ritmo e pelo desenvolvimento e abordagem. Provavelmente os adeptos do xadrez apreciarão muito mais, porém os demais também terão um programa bem interessante. 8,6
