O ARTISTA E A MODELO

Um sensível filme em preto e branco (apesar de ser de 2012), com belíssima fotografia, ambientado na zona rural da França, na época da ocupação nazista. O nome já diz tudo e tudo gira em torno do velho artista, pintor e escultor, interpretado pelo veterano Jean Rochefort (O marido da cabeleireira) e sua modelo, uma jovem que parece refugiada da Guerra Civil Espanhola, sendo sugerido como o local dos fatos a proximidade da fronteira franco-espanhola. É um filme de andamento lento, reflexivo repleto de belas imagens e com momentos muito bonitos de diálogos e de cenas, como os que mostram o processo de criação, os que falam da arte em si, o do instante mágico em que se analisa um desenho de Rembrandt, o dos comentários sobre literatura e sobre os livros proibidos pelo nazismo e aquele extremamente bonito e simbólico, em que o rosto do artista é tocado e “esculpido” pelas mãos que no instante acalentam. Um trabalho poético do diretor espanhol Fernando Trueba (Belle Èpoque, Sedução, A ausência que seremos), que o faz com muita sensibilidade, embora também marcante simplicidade. O filme traz uma reflexão sobre o tempo e sua passagem e vemos os sentimentos pulsando por trás dos gestos e dos olhares (e não das palavras). Também bastante marcantes, o final forte e duas ou três cenas inesperadas, além do segredo revelado no diálogo do casal de idosos quase no epílogo do filme. Além de tudo isso, o filme ainda nos mostra que o erotismo não decorre meramente da nudez (necessitando do complemento da ação ou do pensamento)  e, no final das contas, acaba sendo até mesmo uma obra em homenagem às mulheres, muitíssimo bem interpretadas e representadas – embora com idades opostas – pelas belas Aida Folch e Cláudia Cardinale. 9,2