A VIRGEM VERMELHA (LA VIRGEN ROJA)

A Espanha viveu na década de 30 diversas crises e episódios políticos intensos, conturbados e inclusive sangrentos: da proclamação da Segunda República em 1931 (com a abolição da monarquia de Afonso XIII), quando o governo republicano-socialista tomou posse, passando pela retomada de poder da direita com as eleições de 1933, até o golpe do general nacionalista Francisco Franco de 1936, que derrotou os republicanos na Guerra Civil Espanhola e a partir de 1939 instituiu o franquismo no país, tendo sua ditadura durado até 1975, quando lhe sobreveio a morte. Este filme se apoia em fatos reais, que ocorreram a partir do início da década, quando afloravam as agitações socialistas em busca da extinção da monarquia e da implementação de inúmeras reformas sociais. Por esse motivo inclusive é que são mais surpreendentes e impactantes os fatos relacionados com a personagem enfocada, que realmente existiu, bem como sua mãe, e pelo que se constata o roteiro procurou ser bastante fiel aos acontecimentos, embora seja inevitável nesse tipo de produção que algumas circunstâncias sejam devidamente “romanceadas”. Mas tudo é muito bem feito e retratado de forma consistente, inclusive quanto à reconstituição da época e tendo como elementos principais a direção da espanhola Paula Ortiz e a performance do elenco, notadamente das protagonistas: Alba Planas está ótima interpretando Hildegart, mas a jordana-espanhola Najwa Nimri (que também é compositora e cantora) está soberba como a mãe dela, Aurora. Esta atriz está tão magistral, que consegue deixar o espectador indignado e ressentido com sua personagem, em diversos momentos do filme. O drama – forte e quase uma tragédia grega – enfoca além de um momento histórico singular e da maior importância, temáticas sociais extremamente sensíveis e de relevância universal e poderá ser uma boa surpresa para quem se deixar levar pelo enredo sem previamente ler sinopses ou pesquisar sobre a personagem, que, por sinal, é surpreendentemente anunciada ao final como figura praticamente apagada pela história. Prime. 8,7