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AS SESSÕES

As sessõesFilme de marcante delicadeza, absolutamente equilibrado, engraçado, comovente, sem jamais ser piegas, o que não é fácil já que envolve um personagem que só move a cabeça (por conta da poliomielite) e respira parte do dia dentro de um aparelho de ferro: John Hawkes, excelente, tendo concorrido a Melhor Ator tanto no Globo de Ouro, como no SAG. Uma comédia dramática adulta, sensual (surpresa), porém humana: a nudez é mais figurada que física, mas Helen Hunt está em ótima forma, inclusive física (remoçada), tendo concorrido ao Globo de Ouro e ao SAG e também disputa o Oscar, em todos os casos como Melhor Atriz Coadjuvante. Participa também do filme, com seu habitual carisma, William H. Macy, ator camaleão  – e praticamente eterno coadjuvante -, aqui no papel de um padre anticonvencional. O filme foi inspirado em personagem real e  também com inspiração é dirigido por Ben Lewin, amparado por um ótimo roteiro, com ótima trilha sonora. No fundo, a discussão maior do filme talvez seja sobre a verdadeira definição de amor, seus limites e suas várias facetas, mais do que o direito envolvendo os deficientes físicos (tema abordado, porém, com coragem). Ou, afinal, o direito que todos têm de viver na plenitude de seus limites e o que é que realmente se procura na vida.  8,7

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MINCE ALORS

MINCE ALORSUma comédia leve, ágil, gostosa, divertida, com Victoria Abril (ótima) e Lola Dewaere (que concorre ao Cesar 2013, como Melhor Revelação Feminina), entre outros muito bons, que se passa no interior da França e que a par de divertir, contém mensagens edificantes e um fundo moral, fazendo com que a gente sinta (sem forçar) o quanto é bobagem esse negócio de “gordos e magros” – leia-se “a obsessão/tirania da magreza” –  e que essa questão acaba aparecendo como fútil diante das realmente importantes da existência, das relações interpessoais e relacionadas com a felicidade que  todos buscam.  Produzido em 2012, dirigido por  Charlotte De Turckheim (que faz a dona do salão de beleza), o nome do filme é uma interjeição, que em português significa algo como “caramba”, “puxa” …7,6

 

 

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ANNA KARENINA

AnnaEste é um filme de muitas qualidades e não é à toa que concorre ao Oscar este ano (2013) nas categorias Figurino, Trilha Sonora, Fotografia e Design de Produção. Belíssima fotografia realmente, figurino, produção e uma trilha sonora espetacular, certamente uma das favoritas ao Oscar. Achei acima da média o trabalho do ator Jude Law, no papel de Karenin, marido da protagonista. Com a beleza plástica e a envolvente trilha sonora, o filme nos conduz pelo maravilhoso texto de Tolstói (naturalmente uma adaptação bastante difícil da obra-prima literária), fazendo com que se tenha inclusive vontade de ler o livro. O lado negativo, porém, a meu ver é a “americanização” de algumas interpretações, principalmente da atriz principal: Keira Knightley é uma boa atriz, mas às vezes exagera e fazendo uma personagem como Karenina, não poderia se deixar levar por arroubos e modos americanos de agir. O diretor é Joe Wright (de Orgulho e Preconceito e Desejo e Reparação, em ambos com Keira).  Tirando o “senão” acima, um filmaço.   8,7

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HITCHCOCK

HitchO filme escancara o perfil do diretor, dominador/centralizador, cáustico…aprofunda as relações dele com a esposa Alma, co-roteirista, mostrando os conflitos, o casamento frio e platônico, mas também a importância dela no  trabalho dele, principalmente envolvendo o filme Psicose, em relação ao qual tomamos contato com os problemas de pré-produção, da produção em si e do lançamento do filme, que teve uma campanha publicitária genial, para contornar as limitações impostas pela própria Paramount. As cenas da primeira exibição do filme são ótimas, assim como o filme tem um fecho genial, no jardim. Hitchcock havia hipotecado a casa para fazer Psicose, pois ele mesmo teve que acreditar no projeto e financiar o filme, a Paramount aceitando apenas a distribuição para ficar com 40% do lucro.  Anthony Hopkins, ótimo pra variar,  faz o papel principal e Helen Mirren está excelente (como sempre e concorrendo ao prêmio de melhor atriz no SAG) no papel da esposa. Também estão no elenco Scarlett Johansson, Toni Collette, Jessica Biel, entre outros. Direção de Sasha Gervasi.  Após ver o filme, a vontade é de  rever Psicose, pois ficamos sabendo de muitas curiosidades e detalhes envolvendo esse filme: a intervenção da Censura, inclusive na cena do chuveiro, o dilema da trilha sonora envolvendo essa cena, o fato de Hitchcock ter mandado comprar em todas as livrarias todas as edições do livro para manter segredo sobre a trama e principalmente sobre o desfecho do filme – tanto para o público, quanto para a imprensa e para a própria Paramount… 8,5

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O SUBSTITUTO (DETACHMENT)

O substitutoDrama americano de 2011, com grande atuação de Adrien Brody e no elenco vários nomes conhecidos como James Caan, Bryan Cranston, Christina Hendricks, Lucy Liu, Marcia Gay Harden, William Petersen, entre outros. Diretor, Tony Kaye. A princípio, poderia ser mais um daqueles filmes cheios de clichês, envolvendo a temática “professores x alunos rebeldes”. Entretanto, o filme passa longe dos estereótipos e aprofunda fatos apenas tangenciados pela maioria das produções. Questiona, escancara, choca, polemiza e mostra sérias barreiras envolvendo a educação e as relações, severos conflitos existenciais e uma realidade onde parece ser imprescindível a compaixão a serviço da educação, porém em uma estrutura decadente e que paralisa. Alguns caminhos aparecem, mas o filme escancara a indiferença (título em inglês) como um feroz inimigo a ser vencido. Uma das frases contundentes: “As pessoas deveriam fazer cursos para poderem ser pais…”. 8,2

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OS MISERÁVEIS

Os miseráveisO filme, claro, é baseado na famosa obra de Victor Hugo (1862), que já teve dezenas de adaptações. Trata-se aqui de um musical, produzido com todo o esmero em 2012 pelo Reino Unido. Mas não é um musical comum, é uma superprodução. O musical por si só já é um desafio, pois mistura música, poesia, teatro, ópera e é o cinema o veículo escolhido para passar a mensagem e inebriar os sentidos, sendo imprescindível uma harmonia perfeita entre todos os elementos, um ritmo perfeito. Uma superprodução é um desafio maior, não só quanto à produção propriamente dita, direção, cenografia, montagem etc., mas principalmente para os atores, que além de interpretarem dramaticamente os personagens (no caso bastante difíceis), ainda têm que cantar e/ou dublar. Neste caso o desafio foi vencido com maestria, pelo diretor Tom Hooper (O discurso do rei), por toda a equipe envolvida nesta obra magistral e pelo elenco, comandado por um Hugh Jackman na melhor interpretação de sua carreira, compondo um Jean Valjean complexo e atormentado, por Russell Crowe ótimo na pele do capitão Javert, o eterno perseguidor de Valjean, por Anne Hathaway maravilhosa como Fantine e outros (Helena Bonham Carter e seu partner Sacha Baron Cohen, casal desonesto e canastrão, Amanda Seyfried como a Cosette já na mocidade, Eddie Redmayne e Samantha Barks ótimos também…). Os momentos românticos comovem, os políticos insuflam, as músicas e os arranjos são espetaculares e o filme em sua segunda e decisiva parte fica sensacional, com um final apoteótico e magnífico, digno do gênero. Porque não se trata apenas de mostrar com talento e competência atos de coragem, heroísmo, compaixão etc…trata-se aqui da bravura que alimentou, com suor e sangue, a própria História. Ganhou o Globo de Ouro de Filme, Ator em Musical ou Comédia e Atriz Coadjuvante em Musical ou Comédia. Concorre aos Oscar de melhor Filme, Ator, Atriz Coadjuvante, Canção Original, Mixagem de Som, Figurino, Design de Produção e Maquiagem e Cabelo. Certamente a Academia não vai premiar com o Oscar de Melhor Filme um musical inglês contando a história pós-Revolução Francesa, assim como não terá a coragem de tirar o prêmio do grande Daniel-Day Lewis, intérprete de um dos seus heróis históricos (Lincoln), embora seja quase certa a premiação de atriz coadjuvante para Anne Hathaway e provavelmente de um ou outro prêmio técnico…Mas se os citados prêmios fossem dados, de modo algum haveria qualquer injustiça.  9,0

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FERRUGEM E OSSO

Ferrugem e ossoUm drama francês de 2012, lento, mas denso, e contemporâneo quanto às dificuldades da vida e dos personagens na sobrevivência do dia a dia. Dirigido por Jacques Audiard (diretor do premiado O profeta), apresenta o ator Matthias Schoenaerts fazendo muito bem seu complexo personagem, mas Marion Cotillard é quem brilha mais: depois de Piaf, aliás, não precisava fazer mais nada (uma das maiores interpretações da história do Cinema), mas continua fazendo e muito bem. Seja em cenas corriqueiras, como nas que exigem muito talento dramático, ela é estupenda e desperta emoções. Surpreendentemente não foi indicada ao Oscar como o foi ao Globo de Ouro e ao SAG (pois é muito mais atriz que Jessica Chastain, por exemplo). Mas neste filme o brilho não é só dela, como já dito, e tecnicamente é também um filme bem acabado, inclusive nas cenas envolvendo deficiência física (algumas impressionantes mesmo) – aí contando com a imprescindível tecnologia moderna -, havendo outras cenas de grande beleza plástica e que valorizam a direção e a fotografia, como as do aquário, a da primeira saída ao sol, a do mergulho no mar…Pra se contrapor, quase ao final uma cena impactante, trágica, de um realismo quase macabro. O filme, por ser difícil e pelo ritmo, não é para todos os gostos, mas certamente está longe de ser medíocre.  7,8

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SETE PSICOPATAS E UM SHIH TZU

7 PSICOPATASUm filme diferente, absolutamente imprevisível, lembrando um pouco Tarantino no seu caráter anárquico. Uma comédia com humor negro e pitadas de drama, filosofia, política, ação, mas que não é para ser levada muito a sério…Um enredo muitíssimo bem entrelaçado e com um final genial e surpreendente. Não só a cena do monge, mas após o início dos créditos finais ainda tem um pequeno e interessante arremate…No elenco, Colin Farrell, Sam Rockwell, Woody Harrelson (fazendo um psicopata de forma bem natural…) e Christopher Walken, todos ótimos. Escrito e dirigido por Martin McDonagh (que também dirigiu os diferentes e surpreendentes O guarda e Na mira do chefe), um sabor sofisticado e distante do trivial, só por isso já valendo a diversão.  8,5

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O LADO BOM DA VIDA (SILVER LININGS PLAYBOOK)

O lado bom da vidaO filme, em sua primeira e maior parte, tem o incrível ritmo do personagem: um bipolar, hiperativo. Mas o fato relevante é que para que isso aconteça tudo sintoniza e o diretor David O. Russel  alcança algo muito difícil: o tom exato, de roteiro, personagens, trilha sonora, montagem…o casal de protagonistas é esplêndido e guarda uma química perfeita, Bradley Cooper (surpreendente) e Jennifer Lawrence; os coadjuvantes, são ótimos, principalmente o pai e a mãe, Robert de Niro e Jacki Weaver.  Por isso as indicações aos Oscar de filme, direção, roteiro adaptado (do mesmo David), ator, atriz, ator coadjuvante e atriz coadjuvante. A parte final do filme deixa um pouco de lado o ritmo frenético, mas dá lugar a outro tipo de sabor: a deliciosa comédia passa a se direcionar mais ao romantismo, ao calor humano, ao afeto e ao contexto de família…Mas sem perder qualidade. Diversão de primeiríssima grandeza, que faz rir muito e que também, nesse nível, emociona e enternece.  9,0

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O VOO (FLIGHT)

o vooFilme americano lançado em 2013, com grande atuação (trivial) de Denzel Washington (principalmente na parte final do filme, cenas comoventes), que concorre ao Oscar de melhor ator. Um drama envolvendo aspectos humanos, relacionados com a aviação comercial, alcoolismo, drogas e heroísmo, com foco em um fato específico…às vezes há surpresas por trás dos atos de heroísmo… Feito com correção, bom roteiro (que também concorre – para mim surpreendentemente a Oscar), bom elenco, tem seus momentos de grande emoção mas não é tão acima da média para merecer tantas honrarias. Participação do sempre ótimo Don Cheadle e de John Goodman, o coadjuvante-mor do cinema americano atual: camaleão, desempenha papéis diversos e até exóticos em uma grande quantidade de filmes, mais ou menos como faziam George Kennedy e Charles Durning (recentemente falecido) em suas épocas. Direção de Robert Zemeckis.  7,6

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AUX YEUX DE TOUS

dvd-aux-yeux-de-tousPara alguns críticos, um dos melhores thrillers políticos de todos os tempos. Na verdade, se esse filme francês fosse americano certamente concorreria ao Oscar. Porque tem qualidades indiscutíveis. Hoje em dia somos todos monitorados nas grandes cidades, sob o argumento da segurança. Há câmeras em todas as partes. Até que ponto essa devassa na vida e na intimidade das pessoas se justifica pelos fins? Mesmo para prevenir crimes, fiscalizar delitos de trânsito…Já na apresentação, o filme tem um ritmo frenético, em alguns instantes vertiginoso. Enquanto no contexto social desaba a solidez do sistema bancário francês e se comenta sobre a inaceitabilidade do extremismo islâmico, após um atentado de autoria não assumida que ocorre em Paris, um gênio da computação, desses hackers da vida, passa a monitorar os fatos e ações envolvendo esse atentado terrorista e seus autores e a exercer sobre eles um determinado poder, a manipular psicologicamente os criminosos. Qual o limite de tal poder? Quando ele termina e o observador passa a se envolver realmente e a se sentir impotente para agir? Um filme francês de conteúdo político e social avassalador, eletrizante, impressionante notadamente quanto ao uso da tecnologia, com a força que teve um “Z” na adolescência de muita gente. 9,0

 

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THE PAPERBOY (UM RAPAZ DO SUL)

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Apesar do título pra variar ridículo em português, belo e algo desconfortável – no bom sentido – trabalho de recriação de época e personagens, dirigido por Lee Daniels (Precious), lançado em 2012 e baseado em fatos reais (o que virou moda hoje em dia), na verdade no livro de Peter Dexter, que escreveu o roteiro. A história fica até menos interessante do que o modo de contar a história, a geografia, os costumes, o clima da época e os personagens, tudo impregnado da Flórida quente, suja, suada e pantanosa no final dos anos 60. Fascinantes imagens, inclusive noturnas, das florestas alagadas, misteriosas e perigosas, de segredos – e serpentes e crocodilos… ocultos na densidão da mata. Um drama com suspense, diferente, forte e escandaloso, envolvendo um crime, paixões e segredos, com bela e adequada trilha sonora e um desempenho muito acima da média do elenco, principalmente de Mathew McConaughey (acostumado a papéis diferentes e desafiadores), John Cusak (impressionante) e Nicole Kidman, mas também não ficam atrás Zac Efron, Scott Glenn (quase irreconhecível), David Oyelowo e Macy Gray.  8,2

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COMPLIANCE

ComplianceEste é um filme para adultos, mais voltado para aqueles abertos a coisas inusitadas e chocantes. Portanto, não é para todo o público porque retrata uma realidade urbana quase inverossímil e certamente perversa. Antecipar algo seria estragar a trama, que se passa em uma lanchonete estilo fast food americana, retratando fatos que envolveram alguns de seus funcionários. Não fosse o filme baseado em fatos reais (e isso é dito desde o início), seria realmente inacreditável o que ocorreu. O comportamento de algumas pessoas merece certamente uma análise sociológica profunda…o poder, a obediência, inclusive como atenuante da culpa etc. etc. etc. Na verdade, o título do filme em inglês bem o define, inclusive de forma bastante inteligente, o que desperta até a curiosidade sobre qual será o título em português (geralmente norteado por fatores comerciais e não pela sensibilidade, adequação e lógica). Filme para quem gosta de um cinema mais realista, mas muito bem realizado.  7,7

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A ARTE DA CONQUISTA (THE ART OF GETTING BY)

The Art of Getting ByUm filme moderno, jovem, sobre a vida e a inquietação de jovens, porém com poucos clichês do gênero. Algo diferente do que anda por aí aos borbotões. Na verdade, uma abordagem sobre temas importantes da vida feita com rara delicadeza e sensibilidade, trazendo personagens diferentes e que não se amoldam exatamente ao lugar-comum típico dos filmes do gênero (conhecido como “filmes-teen”). Um filme bonito, com profundidade e que em nenhum momento ofende a inteligência do espectador, inclusive comovendo com autenticidade e honestidade. Pode ser classificado como drama romântico e nesse sentido é bastante acima da média. Lançado em 2011, tem dois jovens talentos que valorizam bastante os personagens (Emma Roberts e Freeddie Highmore), principalmente este último, que é na verdade o grande diferencial do filme. 8,0

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A HORA MAIS ESCURA

a-hora-mais-escuraEstou comentando este filme apenas porque concorre ao Globo de Ouro e ao Oscar (pois aqui só comento os acima de um certo nível). Porque já vi dezenas e dezenas de obras muito melhores e ainda com o adicional do suspense, que este não tem porque já se sabe de antemão tudo o que vai acontecer: o filme é baseado em fatos reais e propagados no mundo todo, desde o início já informando que não se trata de ficção. Já se sabendo o desenrolar da história e inclusive o final, não resta muito espaço para a emoção. Mesmo com o suspense enfocando a autorização do ataque ao esconderijo de Bin Laden, que demorou meses e ocorreu graças à abnegação e à persistência de uma agente da CIA (interpretada pela indicada ao Oscar, Jessica Chastain, atriz muito boa e de ótimo currículo – mas não boa para Oscar, na minha opinião) e a tensão das cenas finais (do ataque às escuras – com infravermelho – à casa onde moravam Bin Laden e várias famílias), ainda assim o filme está longe de ser empolgante. Pulsa quase como um documentário, mostrando a luta dos EUA contra Al Qaeda e os terroristas após o 11 de setembro, até a localização e a morte do grande líder terrorista. Achei  as cenas de tortura do início de certo modo violentas, mas muito distantes do que deve ter ocorrido na realidade (enquanto o presidente dos EUA falava na TV que o pais jamais adotaria métodos tão bárbaros…).  E no final soou meio falso o excessivo realismo da brutalidade dos soldados contra mulheres, crianças e inimigos já vencidos, que moravam no esconderijo com Bin Laden. Claro que é um tema absolutamente sensível aos americanos e essa é a única razão deste filme estar concorrendo a tantos prêmios (filme, roteiro, atriz, edição e edição de som), embora seja muito bem feito tecnicamente. Porém, nada absolutamente fora da rotina.  7,0

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DJANGO LIVRE

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Quentin Tarantino sabe tudo de cinema. E acho que se diverte mesmo é na montagem de seus filmes. Nesta produção, lançada neste início de 2013 e em que faz uma ponta (além de fazer o roteiro, dirigir e editar), mais uma vez homenageia os westerns com músicas inesquecíveis, a começar pela linda e clássica canção de abertura, que deu mais fama ao faroeste “Django”, de 1966, estrelado por Franco Nero (que neste filme, homenageado, aparece em uma cena rápida e engraçada com seu “sucessor”). Só que o Django de Tarantino, para começar, é um Django negro e livre das correntes em época de escravidão nos EUA (o unchained do título em inglês). E a partir daí temos um prato cheio e saborosíssimo, com ótima trilha sonora, som e fotografia impecáveis, domínio perfeito da linguagem do cinema, humor negro, várias referências cinematográficas, personagens interessantíssimos desempenhados por atores ótimos, roteiro muito original em, para resumir, um faroeste diferente mas com a roupagem de todo western que se preza, inclusive até exagerando a violência nas cenas bastante realistas de ação. Um filmaço e que já seria assim se fosse um simples faroeste, mas que extrapola o gênero, pelo talento, cultura e amor ao cinema desse fabuloso e singular cineasta. Desempenhos excelentes de Jamie Foxx, Samuel L. Jackson e do hilário Christoph Waltz (que repete aqui a “parceria” com Tarantino iniciada em Bastardos inglórios e que deu o Oscar para esse ator) e além deles, Leonardo Di Caprio, Don Johnson, entre outros. O filme concorre a vários Oscar: filme, ator coadjuvante (Christoph Waltz), roteiro original, fotografia e edição de som –  fosse eu a indicar os concorrentes, certamente incluiria o diretor e teria colocado ao invés do ótimo Christoph Waltz, o excelente Samuel L. Jackson, quase irreconhecível. A par da diversão, cenas de grande plasticidade, fortes na ação e também com bastante tensão, neste filme realmente ótimo e, como sempre, com pitadas cômicas e irresistíveis do inusitado, como, por exemplo, na cena em que os fazendeiros – todos encapuzados – começam a questionar quem confeccionou aquelas máscaras mal feitas que tornavam difícil ver pelos buracos dos olhos, principalmente ao cavalgarem (o cavaleiro cuja mulher fez todos os capuzes é o primeiro a desistir, chateado, da tocaia e abandonar o grupo…). Diversão de primeira!  9,0

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AMOR

AmourO nome do filme é simples e perfeito. Um drama francês (co-produzido por Áustria e Alemanha) que retrata um casal de idosos, notadamente diante dos acontecimentos que ocorrem a partir do momento em que um deles começa a ficar doente (o que sempre é um teste para o verdadeiro amor). Dirigido por Michael Haneke e lançado no início de 2013, é um filme pesado no sentido de mostrar a realidade, que será sentida ainda mais por aqueles que já conviveram e/ou trataram doentes de AVC ou Alzheimer. Interpretações magistrais do veteraníssimo Jean-Louis Trintignant (antigo no cinema a ponto de ter sido galã de Brigitte Bardot) e da indicada ao Oscar, Emmanuelle Riva. O filme concorre a vários Oscars: filme, diretor, roteiro, filme estrangeiro (como austríaco) e atriz – como também poderia ter sido indicado na categoria  melhor ator…-, tendo ganho a Palma de Ouro em Cannes 2012. Para quem procura cinema-diversão, nada indicado. Mas é cinema de qualidade, sério, profundo, tocante.   8,0

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O IMPOSSÍVEL

impossivel_7Este é um bom filme até, mas eu certamente gostei menos dele do que a maioria vai gostar. Penso eu, pelo menos. E também enalteço menos a interpretação da excelente Naomi Watts do que acho que a maior parte das pessoas vai fazer, embora tenha gostado – como sempre – do camaleão Ewan McGregor e do excelente ator juvenil, Tom Holland.  As cenas são majestosas, do tsunami, impactantes e mostram o desespero de quem foi vítima de tal catástrofe. E baseadas em um drama real, ocorrido com uma família no Natal de 2004 na Tailândia. E tem razão a minha ídola Isabela Boscov, quando observa que o filme mostra que em tragédias assim o que manda é simplesmente a sorte de cada um. As vidas e os destinos são colocados à deriva, ao acaso…As cenas até o aparecimento do tsunami são preparatórias e rotineiras. Daí em diante, porém, achei o filme um mero melodrama. Um filme que manipula e em troca não oferece nada mais do que qualidade técnica e interpretativa. Em minha opinião, fazer o papel de vítima de uma catástrofe, com maquiagem de sangue e hematomas não é tão difícil como trabalhar com o rosto e o peito abertos, como, por exemplo, Meryl Streep faz em qualquer papel que assume. Por isso jamais daria o Oscar para Naomi, embora a tenha como grande atriz. Ewan é muito bom, mas também não faz nada demais, considerando a natureza do papel que desempenha. Em suma, um bom e correto filme, com efeitos especiais ótimos, boas interpretações, mas que poderia passar em qualquer sessão da tarde, no meu entender não tendo merecimento para qualquer Oscar, exceto ser for técnico.  7,2

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LINCOLN

Lincoln

Geralmente filmes sobre a Guerra Civil Americana – tema esse de obras como E o vento levou – são repletos de ação, tiroteios, lutas sangrentas sob o som de canhões e encobertas pela poeira dos campos de batalha…Mas este é um filme lento e com pouquíssimas cenas nos campos de batalha. É sobre os bastidores e as estratégias (algumas com ética bastante duvidosa) promovidas pelos Republicanos, coordenados e comandados  por Abraham Lincoln, para terem aprovada a 13ª Emenda na Constituição dos EUA pela Câmara dos Deputados: a emenda que abolia a escravidão em todo o território americano e que necessitava de 2/3 para sua aprovação (o filme mostra os debates e as dificuldades de se obter essa maioria, reconstituindo com brilho o momento político). É um filme histórico, portanto, e de grande significado para os americanos, que com isso serviram de espelho para o mundo e o fazendo mediante dispositivo inserido na Constituição, o que gerou efeitos futuros e permanentes. O filme tem um roteiro muito consistente, um trabalho de pesquisa e reconstituição de época excelente (figurino, fotografia etc.), em termos de qualidade é um dos melhores da carreira de Steven Spielberg e a interpretação de Daniel Day-Lewis é extraordinária (tanto, que tem recebido todos os prêmios a que vem concorrendo, faltando apenas o Oscar.  Tommy Lee Jones (recentemente premiado no SAG) e Sally Field (concorre ao Oscar) igualmente ótimos. Mas não é um filme arrebatador, exceto, talvez, para o povo americano, pelo significado histórico dos fatos e pelo personagem, admirado como um dos maiores presidentes de todos os tempos: um homem de origem humilde (lenhador) e que governou com verdade e simplicidade, sendo respeitado por sua sapiência e empatia e por sua conduta firme, porém serena. Pelo menos é o que conta a história e o que o filme mostra. A abolição dos escravos significou o fim da Guerra Civil, porque toda a economia dos Estados do Sul era escravocrata e com o ato da Câmara (referendando o que o Senado já havia formalizado) simplesmente houve o colapso total de um sistema produtivo e econômico. No final, o triste fato ocorrido apenas três meses depois da proibição do trabalho escravo no território americano. Embora reconheça que se trata de uma obra de grande qualidade, dos concorrentes ao Oscar de 2013, porém, é um dos que menos me tocou/emocionou.  7,8

 

 

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EU TE MATAREI, QUERIDA (MY COUSIN RACHEL)

my cousin rachel 2Fotografia belíssima em preto e branco, em suspense permanente, este filme de 1952 dirigido por Henry Koster tem bastante clima, valorizado pela trilha sonora, narrador em off, bons diálogos e inclusive uma dupla de jovens protagonistas que o tornam ainda mais atraente: Olívia de Havilland e Richard Burton. Porém, o tema não é novo e o filme é menos bom do que poderia ser e do que promete de início, embora tenha, além dos méritos acima mencionados, o de guardar uma surpresa para o final, pois quando tudo parece estar claro e estarmos diante da clássica figura do cego – tolo – apaixonado, ocorrem fatos que acabam deixando no ar uma boa interrogação…Que, todavia, pode ser interpretada como tirada inteligente ou absurdo de roteiro…  7,5