ENTRE MULHERES (WOMEN TALKING)
Ainda mais diante de uma realidade ainda brutal e opressora em que vivemos (de feminicídios etc), este filme se mostra atual e bastante oportuno (universal), pela sua força, mensagem, abrangência e também por propiciar a reflexão (menos, é claro, aos “trogloditas”, que jamais se sensibilizam). Na verdade, é um trabalho sobre tema antigo, mas com uma abordagem original. Chocante a constatação sobre a época da ocorrência dos fatos, que são narrados a partir da realidade de mulheres que vivem em uma pequena comunidade religiosa (que bem pode espelhar boa parte do mundo). Os acontecimentos praticamente se concentram dentro de um galpão (celeiro), mas o fato em nada desmerece a notável harmonia entre todos os elementos, incluindo trilha sonora, fotografia (estilo envelhecido), elenco e direção/edição. A diretora Sarah Polley (como atriz: Minha vida sem mim, Senhor ninguém, A vida secreta das palavras) consegue com muita competência e feeling transmitir as dores e lamentações das personagens, sem em nenhum momento esbarrar nos caminhos fáceis do dramalhão ou do pessimismo amplo. Há muitas cenas de grande significado, porém algumas são belas plasticamente, como a da criança dormindo sobre o produto da colheita, que parece uma pintura. Todavia, o que predomina e efetivamente interessa é o diálogo, como instrumento particularmente notável de integração e renovação/reação. Todas as atuações são excelentes, inclusive o filme concorreu no SAG AWARDS como Melhor elenco, com destaque para Rooney Mara (Os homens que não amavam as mulheres), Claire Foy (The crown), Jessie Buckley (A filha perdida), Judith Ivey (A dama de vermelho) e Frances McDormand (Três anúncios para um crime). Entretanto, embora seja um filme de mulheres, com mulheres e para mulheres, o ator Ben Whishaw desempenha muitíssimo bem o único papel masculino relevante (August). Um filme que talvez merecesse ser mais bem cotado nas diversas premiações do cinema, mas que, de qualquer forma, vai concorrer ao Oscar do próximo dia 12 de março nas categorias de Melhor filme e Melhor roteiro adaptado. Já no início do filme temos a síntese para o destino de muitas mulheres: nas “cédulas” da eleição atípica só existem as três escolhas, de “lutar”, “nada fazer” ou “partir”. As duas últimas cenas deste rico filme permitem leituras diversas: a penúltima, parece mostrar ou as dificuldades dos caminhos a serem percorridos ou a vastidão desses caminhos; e a última cena – que completa o ciclo da narrativa da primeira cena do filme -, parece retratar ou o desejo de toda mãe em relação a seus filhos ou reafirmar, naquela tentativa algo profética, a irônica visão quanto à real possibilidade de mudanças. 8,8