É ASSIM QUE ACABA

Parte da crítica e do público detona este drama com romance de 2024 (que se passa em Boston), pelo fato de não ser fiel ao livro, supostamente deixando inúmeras lacunas e explorando superficialmente temáticas vitais na obra literária. Discussões de lado, entendo como fato incontestável que existem dois caminhos na adaptação de um livro: ou o roteirista escolhe o caminho da fidelidade ou opta pela liberdade de alterar o que lhe seja conveniente e de enfatizar da mesma forma o que desejar, para criar uma obra cinematográfica com visão nova, diferenciada e independente. Como é este último o caso deste filme, discussão encerrada e analisado o filme como se o livro não existisse. Nesse compasso, trata-se de um trabalho surpreendente. Em primeiro lugar, pela segura e sensível direção do americano Justin Baldoni, que acumula a função de diretor com a de ator e em papel de grande importância, que é o do Ryle Kincaid; e em segundo lugar e com grande destaque, pela belíssima interpretação de Blake Lively (também produtora do filme), uma atriz que começou há quase vinte anos em papeis de pouco destaque no cinema (Quatro amigas e um jeans viajante…) e foi aparecendo com sua arte (A incrível história de Adaline), ganhando alguns destaques (The shallows, Um pequeno favor), até finalmente mostrar que hoje é uma atriz com muita maturidade e talento. Apresenta aqui uma belíssima performance, em papel difícil e inclusive com grande química com seu principal parceiro de cenas, o já citado Baldoni. Na verdade, todo o elenco é muito bom, com destaque para a desembaraçada e levíssima Jenny Slate (Allysa). A história é atraente, mas também complexa sob certo aspecto e forte na medida em que destaca a influência na vida adulta de acontecimentos marcantes do passado (traumas difíceis de superar), inclusive envolvendo relações familiares tóxicas ou perigosas (Freud explica em parte). A condução do filme impede que a trama derive para o banal e mantém íntegra a qualidade do roteiro, com cores da realidade e alternando momentos de leveza e de humor com os mais contundentes. Os diversos desdobramentos conservam o espectador em suspense quanto ao desenlace, sendo também destaque do filme a belíssima trilha sonora. Quem pesquisar na internet também verá que o filme foi envolvido em outras polêmicas, inclusive quanto à interferência do marido de Blake (Ryan Reynolds) em alguns pontos do roteiro. Excepcionalmente pode ser assistido tanto no Max, quanto na Prime. 8,8