ANJOS E INSETOS

Filme de época que passou nos cinemas nos idos de 1995 e que não foi muito comentado depois disso. Mas mereceria. No mínimo por ser um filme diferente. Mas também tem um roteiro original e instigante, é muito bem interpretado, produzido, lindamente ambientado e o figurino foi até mesmo indicado ao Oscar (o filme também concorreu à Palma de Ouro em Cannes). É uma produção EUA-Inglaterra, que se passa em uma grande propriedade rural de família inglesa tradicional (inclusive na caça à raposa) e de grandes posses, que patrocina um naturalista especializado no estudo dos insetos e recém chegado de uma expedição amazônica.  O filme se passa na metade do século XIX e apenas aparentemente é inocente como imaginamos no começo (na verdade, o interesse maior do filme, embora as inteligentes associações, vai muito além da entomologia!). Ao mesmo tempo em que observamos o estudo das espécies e ao redor alguns debates e sutilezas sobre os conflitos intelectuais envolvendo Charles Darwin, vamos percebendo que os segredos que o mundo das formigas revela após persistentes e cuidadosos estudos, também se aplica aos humanos, que guardam muitos desejos reprimidos. De forma sutil (ou às vezes não) são expostos os conflitos de classes, o contraste cultural, em diálogos estratégicos e com um suspense muito bem construído, que se aplica por maestria tanto para as cenas envolvendo as formigas (a cena do ataque das formigas vermelhas é extremamente interessante, inclusive diante do contexto que se desvendará…), como para os personagens, que ficam longe da banalidade. Foi um dos primeiros filmes da carreira de Kristin Scott Thomas, que, como sempre, é um destaque por seu talento e também sua beleza diferenciada. O diretor é o americano Philip Hass e o roteiro baseado em livro de A. S. Bryatt. Destaque para a cena lindíssima das borboletas (com a atriz mais conhecida do público além da Kristin, que é a Patsy Kensit) e para a genialidade da cena do baralho, além, é claro, entre outras, da cena-surpresa, que vai acabar definindo alguns destinos. Um belo e surpreendente filme, que nos mostra de início águas cristalinas e plácidas e aos poucos vai nos revelando o que as profundezas mais escuras contêm.  9,0