CORINGA

Quando crianças assistimos, na época empolgados, à série semanal Batman, que hoje soa absolutamente ridícula, mas que tinha o Coringa como um dos inimigos do homem-morcego, vilão que se caracterizava por seu rosto maquiado, imitando um palhaço de circo e pela risada estranha e meio esquizofrênica. Com o tempo e as histórias em quadrinhos sendo transpostas de maneira menos jocosa/amadora para a TV e o Cinema, esse vilão ganhou importantes interpretações em vários filmes, notadamente por Jack Nicholson, Jared Leto e Heath Ledger, este último tendo ganho um Oscar póstumo por sua magnífica interpretação do palhaço no inesquecível Batman: O Cavaleiro das Trevas. Agora, quando as coisas pareciam acomodadas, surge essa obra poderosa e Joaquin Phoenix com sua magistral performance, que parece uma premonição para o Oscar de 2020. A sensação experimentada ao término do filme, é de se ter testemunhado uma obra magistral, com invulgar qualidade cinematográfica. E isso não apenas graças a Joaquin, mas à sintonia de todos os elementos, comandados pelo diretor Todd Phillips: edição, direção de arte, fotografia e uma trilha sonora marcante e que eleva de maneira elogiável o nível do impacto e da tensão que permeiam pelo filme todo. O roteiro, inclusive foi executado pelo diretor com total maestria e originalidade, escapando dos clichês que normalmente aparecem nesse tipo de produção, baseada em HQs. Não é à toa que o filme ganhou o Leão de Ouro em Veneza (segundo semestre de 2019), feito raro para produções americanas nas últimas décadas. E que corre firme no páreo duríssimo para o Oscar 2019 a ser entregue ano que vem. Trata-se de um filme adulto, tenso, denso, violento, um drama com algumas pitadas de ironia mas notável profundidade psicológica, que se passa na decadente Gotham City dos anos 80 e tem seu foco principal no palhaço, que vive de bicos, sustenta a mãe idosa e sonha ser um stand-up man famoso e entrevistado no popularíssimo programa do famoso apresentador interpretado por Robert De Niro. O protagonista efetivamente se torna icônico nas mãos de Joaquin (a cena do poster, que é da escada, já entrou para os anais do cinema), que transgride e escancara seu conturbado universo mental/psicológico, assolado pela massificação e com isso viaja por caminhos esquizofrênicos, do céu para o inferno. O filme é todo emocionante e cru, não fazendo concessões e por incrível que pareça, por esse motivo, acarretou operações especiais da polícia americana, na saída das salas de cinema dos EUA, preocupada com as ações e reações de fãs e “seguidores” do vilão. O final é surpreendente e arrasador e o filme por seu incontestável mérito entra para a galeria das grandes obras do cinema de todos os tempos.9,8