BARBIE

Este filme não é apenas o maior fenômeno cinematográfico mundial dos últimos tempos (e uma genial estratégia de marketing provavelmente) – e que está fazendo inclusive as pessoas vestirem cor de rosa para ir às sessões -, mas é também uma grande surpresa em termos de forma e conteúdo: porque da sua primeira cena aos créditos finais é um primor de qualidade em todos os sentidos, com absoluto domínio do tema e da fantasia a ele associada, criatividade contendo alguns momentos simplesmente geniais (como a cena da abertura, inclusive com a música de 2001 Uma odisseia no espaço) e muito riso e alegria, sem perder de vista a homenagem a uma era e o aspecto social envolvido, contendo dezenas e dezenas de referências e momentos de inegável profundidade, notadamente envolvendo a mulher. A beleza plástica e os cenários, a fotografia, as cores do filme, tudo é belo e muitíssimo bem orquestrado e harmonizado com um texto muito bem escrito e divertido e com os personagens, maravilhosamente bem interpretados pela fantástica Margot Robbie – sem dúvidas uma das grandes atrizes de sua geração -, pelo surpreendente Ryan Gosling (que faz um Ken excelente) e por um elenco coeso, formado por nomes como Will Ferrell e com a presença de Dua Lipa, que faz aqui sua estreia no cinema, no papel da Barbie Sereia. A narradora é simplesmente Helen Mirren, que inclusive em um momento singular do filme faz uma observação muito engraçada não sobre a personagem Barbie, mas surpreendentemente sobre a atriz Margot Robbie. A direção, também em alto nível, é de Greta Gerwig, que dirigiu filmes como Francis Ha, Lady Bird e Adoráveis Mulheres. O filme tem também a seu favor (e como mérito) muitos detalhes interessantes, assim como inúmeras referências. Por exemplo: na primeira cena, a Barbie está com a mesma roupa de quando foi lançada, em 1959; o rosto da Barbie de 1959 é o primeiro à esquerda na cena que parodia o Monte Rushmore; há cenas e músicas que lembram O mágico de Oz, O pecado mora ao lado, Os embalos de sábado à noite, All that jazz, Matrix, Rocky o lutador (Ken inclusive veste uma roupa semelhante à do Stallone), Greese, Ases indomáveis e outros mais. Vemos adaptado o famoso letreiro de Hollywood, referências ao `N Sync e ao Monty Python e até à famosa pintura A criação de Adão de Michelângelo (neste caso, no close de um toque de mãos), os escritórios da Mattel e até os estúdios da própria Warner ao fundo de uma cena próxima à janela de um prédio. Temos até o próprio Ryan Gosling cantando uma música que fez questão de interpretar: I´m just Ken. E uma justa homenagem a Ruth Handler. E muito mais, inclusive a referência sutil à ameaçadora concorrência da Barbie (bonecas Bratz). Em resumo, um trabalho que impressiona pela perfeição técnica, mas também por um texto muito mais profundo do que parece à superfície (com marcantes momentos de sátira feminista) e que tem todos os elementos encadeados para propiciar uma ótima diversão para os que se deixarem levar pela fantasia e pelo desapego. Certamente haverá recordes de público e bilheteria e o filme não faltará ao Oscar de 2024. 9,2