ASSASSINATO NO EXPRESSO DO ORIENTE (2017)

Na minha opinião, este é um dos melhores filmes baseados em livros de Agatha Christie (1890-1976), a escritora de romances policiais mais famosa do mundo, traduzida para mais de 100 países e que vendeu mais de 2 bilhões de livros. Já houve versões anteriores do “Murder in Orient Express”, mas esta é a melhor de todas. A grande dificuldade para os fãs é de adaptação à nova figura do detetive Hercule Poirot, aqui interpretado pelo próprio diretor do filme, o irlandês Kenneth Branagh. Principalmente depois da série da TV britânica e da maestria da interpretação de David Suchet. Contudo, há lugar para mais um e à medida em que o filme vai passando, as virtudes do ator-diretor aparecem claramente e o detetive belga das famosas “pequenas células cinzentas” acaba ganhando simpatia e total credibilidade, compondo um personagem ao mesmo tempo carismático e diabólico. Cabe dizer, ainda, que Agatha Christie descrevia o seu Poirot como tendo vastos bigodes, o que agora parece ter sido satisfeito! A trilha sonora ajuda a enfatizar esses aspectos de Poirot, assim como valoriza todas as cenas do filme (provocando grandes emoções). De “quebra”, durante a exibição dos créditos finais, somos brindados pela belíssima canção romântica “Never Forget”, cantada por Michelle Pffeiffer, que também atua no filme. Além de ter aceitado o desafio de interpretar o famoso detetive, o diretor mostra claramente sua familiaridade com a obra, ao apresentar ao espectador, de modo competente e com a profundidade necessária, todos os personagens: o rol dos suspeitos! Conta a história, que Agatha Christie viajou pelo famoso trem de passageiros (Paris-Istambul) em 1928 e se inspirou para escrever o livro durante os seis dias em que o comboio ficou parado em razão de tempestades de neve; e que usou posteriormente, para dar o acabamento final à obra de 1934, o episódio real envolvendo o herói e piloto norte-americano Charles Lindbergh. De todo modo, o filme é uma adaptação livre e ousada do livro, com inovações, surpresas, muitos efeitos especiais, mas tudo realizado de uma forma extremamente competente, formando uma obra absolutamente “redonda”, sem excessos ou exageros. Tudo a serviço do filme e sem descaracterizar o texto precioso! Só os fãs excessivamente exigentes talvez possam se decepcionar, já que a trama é bastante fiel ao livro e o diretor consegue contar a história de uma forma coerente – até deslumbrante -, mantendo o mistério e o suspense e acrescentando algumas doses de ação, além de contar com um excelente elenco: Michelle Pffeiffer, Johnny Depp, Judi Dench, Penélope Cruz, Willem Dafoe, Derek Jacobi, Daisy Ridley (heroína da nova trilogia Star Wars), entre outros e, claro, Kenneth Branagh no papel do Poirot. O dilema ético de Poirot no final do filme é também fato extraordinário, além da ousada imagem dos personagens à mesa, ao ar livre e antes da “revelação do assassino”: a pose sugere uma ironia e ao mesmo tempo uma provocação do diretor ao espectador atento e que gosta de juntar as pistas e tentar desvendar o crime (no que os livros de Agatha frustraram tantos leitores!…). O filme é tão bom, que mesmo quem já conhece o final (como foi o meu caso), ainda assim “viaja junto com o Expresso” e se sente totalmente recompensado, em razão da qualidade do filme, de todos os detalhes e sutilezas da produção e do deslumbramento visual e intelectual da obra.  9,5