A VIDA SECRETA DAS PALAVRAS

Este é um filme praticamente sem ação (recomendável talvez para quem aprecia cinema “de arte”), mas de virtudes incontestáveis, praticamente uma obra-prima da diretora espanhola Isabel Coixet (Minha vida sem mim), com produção executiva de Pedro Almodóvar. Com a segura participação de Julie Christie na parte final, a interpretação sempre ótima de Javier Cámara e performances inesquecíveis de Tim Robbins e Sarah Polley (magistral), acompanhamos um mergulho sensível, profundo, intimista e doloroso, a partir de um relacionamento ocasional, temporário e inesperado e que acabou reunindo dois sobreviventes, cada qual do seu modo e por motivos diferentes. Tomamos, então, contato com os fatos, que vão se intensificando à medida em que a intimidade avança e que revela traumas do passado, acabando por aflorar entre outras a impressionante virtude da empatia, a generosidade, embora presente a sensação permanente de dor e desconforto, físico e psicológico (ambos os personagens do par central possuem restrições físicas). Nasce, então, do improvável a beleza na total e irrestrita entrega. Apesar de a história se passar basicamente em uma plataforma de petróleo, a fotografia também é destaque, assim como a bela trilha sonora. O título do filme já é belíssimo, mas também o são vários momentos, incluindo o da revelação junto ao leito e o da cena quase ao final (inesquecível e mágica), com o diálogo envolvendo a natação (um “achado”). Aliás, eu terminaria o filme nessa cena, dispensando os momentos finais do filme em que a voz em “off” parece deslocada, tentando justificar desnecessariamente sua existência, a qual também aparece no início do filme (momento em que também seria dispensável). De resto, algo para se emocionar legitimamente, em cinema de altíssima qualidade. O filme ganhou o Goya (Oscar espanhol) em 2006, nas categorias de melhor Produção, Diretora, Roteiro e Filme9,2