SETEMBRO 5

Produção que concorre ao Oscar 2025 na categoria de Roteiro original, guarda feições de documentário na medida em que o espectador vai acompanhando os fatos conforme eles vão ocorrendo, sob o comando e as ações do jornalismo da grande rede americana ABC, que estava baseada ao lado da Vila Olímpica de Munique, onde foram realizados os Jogos Olímpicos de 1972. Na verdade, o foco do filme é a cobertura jornalística que marcou uma mudança relevante na mídia mundial. Para quem não conhece a história e não sabe o que ocorreu no dia 5 de setembro de 1972, aviso de spoiler: de forma dinâmica e cada vez mais impactante – em crescente tensão (e a trilha sonora dá o tom de forma discreta mas incisiva) – vamos acompanhando passo a passo os terríveis acontecimentos provocados pelos terroristas palestinos conhecidos como Setembro negro ao investirem contra a delegação israelense e, por extensão, contra todos os vinculados à Olimpíada de Munique. O atentado terrorista que no início padece de confirmação, soa a princípio como uma notícia inacreditável, mas vai tomando forma e seus contornos se definindo (de forma gradual e confusa, exatamente conforme ocorre na realidade de eventos coletivos grandiosos), passando a status de grande furo de reportagem, além de acontecimento mundialmente relevante. Tratou-se da primeira olimpíada realizada na Alemanha após a Segunda Guerra, havendo por parte dos alemães todo o preparo, cuidado e a intenção de promover o espetáculo sem permitir qualquer lembrança do holocausto; pelos demais, entretanto, em graus menores ou maiores, parecia orbitar uma espécie de ressentimento ou no mínimo uma expectativa de redenção pelos horrores da guerra. O filme mantém o interesse com um clima permanente de tensão, não só em razão do próprio ataque terrorista, mas também das decisões a serem tomadas pelos líderes da ABC diante de cada impasse surgido, alguns de delicada ou difícil resolução, como a de mostrar imagens de violência sabendo que as famílias dos atingidos também eram espectadores da emissora ou como a de antecipar as estratégias policiais, a despeito de poderem ser vistas, pela TV, pelos próprios terroristas. A ABC foi a primeira emissora a transmitir os jogos ao vivo, sendo que o filme mostra a “guerra” com a CBS pela cobertura do atentado, bem como o consórcio forçado das duas emissoras, já que esta última era a controladora do satélite necessário para a transmissão. En passant sugere-se erro de procedimento da polícia alemã, como elemento decisivo da tragédia. E impressionados, ficamos sabendo nos créditos finais que os atos criminosos dos chamados “Jogos da Paz” – ou da 20ª Olimpíada – foram vistos simplesmente por 900 milhões de pessoas, o que confirma o caráter histórico da atuação jornalística do canal americano. Em resumo, um bom e dinâmico drama de suspense baseado em fatos reais, dirigido pelo suiço Tom Fehlbaun e estrelado, entre outros, por Peter Sarsgaard, John Magaro e Ben Chaplin. 8,6