BELEZA AMERICANA (AMERICAN BEAUTY – 1999)
                Um filme de 1999 que até hoje causa grande impacto. Tanto pelo seu brilhante roteiro, quanto pela maneira pela qual se desenvolve e ainda pelo forte e permanente clima de drama, mistério e tensão, potencializado pela qualidade da trilha sonora e também da fotografia. O diretor, magnífico (inclusive na direção de atores), foi Sam Mendes (Por uma vida melhor, Skyfall, 1917), surpreendentemente em seu primeiro filme, mas a montagem também merece grande destaque, por acompanhar o elevado nível de todos os demais elementos, inclusive do elenco, constituído magnificamente por Kevin Spacey (soberbo), Annette Bening, Chris Cooper, Wes Bentley, Thora Birch, Mena Suvari, Allyson Janney e outros mais, entre os quais, de mais conhecido, Peter Gallagher. Ganhou os Oscar de Melhor filme, diretor, ator, (Kevin Spacey) roteiro original e fotografia (tendo ao todo 8 indicações), o Globo de Ouro de Melhor filme, diretor e roteiro, o Bafta (Oscar britânico) de Melhor filme, ator, atriz (Annette Bening), montagem, trilha sonora e fotografia (a cor das casas e portas são intencionais, como retrato de vazios existenciais, emoções e desejos) e, ainda, muitos outros prêmios, incluindo de sindicatos de atores e de roteiristas. Uma poderosa radiografia de relacionamentos sociais e familiares (e seus conflitos, inclusive em face do distanciamento entre pais e filhos) e da hipocrisia que tudo orbita, da futilidade e efemeridade dos valores, com vários temas envolvidos e que emergem de forma poderosa e contundente. O envolvimento do espectador é total e à deriva rumo ao imprevisível desfecho, sabendo desde o início que um dos personagens não vai sobreviver. Um fortíssimo e irônico/sarcástico murro no verniz social – no mito do way of life, em resumo -, uma luz intensa (que desnuda e desmascara) no subterrâneo deteriorado das vidas aparentemente perfeitas e ajustadas. Nelson Rodrigues já dizia que “se olhar de perto ninguém é normal” e, no caso, onde em muito a frase se aplica, acaba sendo até paradoxal que um jovem como Ricky, com toda a transgressão de suas ações (embora com relevantes justificativas), acabe sendo um dos personagens com um maior senso de independência, desapego e beleza, o que fica claro em vários momentos, principalmente naquele em que uma folha de papel faz um longo bailado (restrito no espaço) e ao sabor do vento, quando ele externa algo como “haver tanta beleza, que não se sabe se o coração conseguirá suportar”. De se destacar também que o excelente título do filme – felizmente mantido em português – alcança mais de um significado, sendo literalmente um tipo de rosa (retratada nos cartazes do filme) bastante cultivada nos Estados Unidos, porém sem espinhos e sem aroma – o que já clarifica uma rica metáfora. Um filme avassalador e atemporal, tido por muitos inclusive como um dos maiores da história do cinema. 9,6
