EMILIA PÉREZ

Cannes nunca foi um festival convencional. Normalmente polêmico, premia anualmente filmes que recebem os mais variados conceitos, em diversas partes do mundo. Este filme não é exceção, sendo fato que recebeu o Prêmio do Júri no Festival de Cannes 2024, assim como o de Melhor atriz para a interpretação coletiva das intérpretes cantoras, afinal é um drama musical – na verdade, são várias as músicas cantadas pelo elenco, mas todas estão efetivamente ao serviço do enredo, algumas inclusive sendo extremamente tocantes/emocionantes. E praticamente todas com ótimas melodias e letras. Justificando a natureza do festival de Cannes, este filme tem conceitos os mais diversificados, variando de “o pior filme da minha vida” até “simplesmente magnífico”. Portanto, gostar dele, adorar ou odiar, depende de cada um, embora seja fato que o gênero “musical” afasta certa parte do público. Esse fato à parte, é um drama que se passa no México, tem violência, conflitos, envolve cartel e criminalidade, mas também tem momentos sentimentais e está centralizado em um fato cuja natureza parametriza toda a história, algo inesperado, audacioso e bastante atual (no spoiler): que se relaciona com a profundidade do ser humano e sua busca pela felicidade. A respeito dos debates, o filme tem momentos grandiosos, inclusive focando questões sociais altamente relevantes (e muito bem encenadas – como a música após o tempo de 1h 7min 30seg de filme); mas também há um e outro em que se assemelha a um “novelão mexicano”. Entretanto, linha geral, mantém um nível elevado, com a virtude de apresentar desdobramentos imprevisíveis do início ao final, o que mantém aceso o interesse do espectador ao longo de toda a história. O diretor é o premiado francês Jacques Audiard (Ferrugem e osso, O profeta…) e o elenco inclui as atrizes americanas Zoë Saldaña (no papel da advogada) e Selena Gomez (cantora, atriz, compositora, empresária, produtora e apresentadora) e a atriz espanhola Karla Sofia Gascón (como Emília Pérez). Um filme interessante porque diferente e que prende o espectador por ter uma trama imprevisível e com elementos sensíveis. 8,9