TODAS AS NOITES (TOUTES LES NUITS)

Um filme feito em 1999, lançado em 2001 e que se enquadra no gênero “cinema de arte”, o que significa que vai agradar apenas certo tipo de público: provavelmente tanto pelo ritmo, quanto pela forma diferente e até estranha de narrar a história. Os personagens às vezes parecem teatrais, a câmera assume papéis não usuais e há closes insistentes na região dos pés, como um fetiche. Algo baseado em Flaubert (A educação sentimental) não poderia ser mesmo popular, ainda mais dirigido por Eugène Green, excêntrico embora singular dramaturgo e cineasta, adepto das técnicas do teatro barroco francês e da declamação. Mas é um filme bastante curioso, original, lírico (inclusive com as coisas da noite: “o único momento em que se pode ser verdadeiramente feliz é à noite”), bem arquitetado e com diálogos muito interessantes (embora alguns pareçam recitados), sendo ambientado a partir do verão francês de 1967. A direção de atores é ótima, rendendo excelentes performances de Adrien Michaux (Jules), Alexis Loret (Henri) e Christelle Prot (Émilie). Os dois primeiros são os amigos de infância, a partir de quem todos os fatos ocorrem, mostrando grandes transformações (cada qual seguindo um destino) mas também a extraordinária força e longevidade dessa amizade. Surgem diálogos provocativos, inclusive políticos – e o filme passa pelo movimento de maio de 68 – e até eróticos (as conversas camuflando a atração do rapaz e da mulher em Paris soltam faíscas), mas todos são francos, destilando sentimentos reais, verdadeiros, embora as imagens sejam todas elegantes e as intimidades mostradas com absoluta sutileza. Mas algumas frases soam maravilhosas, como as que evocam a amizade: “os amigos estão sempre juntos, mesmo quando separados”, “cada um de nós deve dormir sozinho, mas eu estarei com você todas as noites”, o filme também nos desafiando a quebrar preconceitos sexuais. Seja como for, algo diferente a ser ou não degustado, mas que alguns consideram uma pequenina pérola. 8,6