VIVER (LIVING)
Este filme britânico de 2022 é uma pequena joia do cinema e pertence ao acervo da plataforma HBO. Não é fácil contar uma história e manter absolutamente equilibrados e em total harmonia todos os elementos do filme, do começo ao fim. E aqui isso acontece. O elenco é todo coeso, sendo comandado por Bill Nighy (Bafta de coadjuvante por Simplesmente amor e também ator de teatro), em atuação absolutamente inspirada e que de forma justa lhe valeu uma indicação ao Oscar de Melhor ator. Mas fora isso, a fotografia é excelente, a edição perfeita e a trilha sonora e a direção caminham de mãos dadas e de forma virtuosa o tempo todo. O diretor, o sul africano Oliver Hermanos, conduz tudo com rara e cuidadosa competência e com muita sensibilidade. A delicadeza da trilha sonora e sua atenta precisão também chamam a atenção e contribuem para o brilho de cada instante (de se notar a mudança de enfoque na parte última do filme) – Hermanos também dirigiu “O rio sem fim”, o primeiro filme sul-africano a ser indicado ao Leão de Ouro, em 2015. E mais: apesar das possibilidades, a história, repleta de emoções contidas, bem ao estilo do recato britânico (com o qual convivemos ao longo do drama), jamais desliza para o piegas. Nos dá emoção, em doses suficientes e até generosas em certos momentos, mas com total controle da direção. O roteiro foi escrito com base na obra “Ikiru”, de Akira Kuosawa, e nos traz algo com muita beleza e profundidade e algumas cenas marcantes, como, por exemplo, a do homem cantando ao lado do pianista e a do homem cantando no parquinho, a conversa no restaurante, o diálogo dos quatro homens no trem e a conversa com o guarda. E à harmonia de tudo soma-se a lição que fica para a vida de todos nós, bastando refletir a respeito e desejar colocar em prática o ditado que ensina que as ações valem mais que as palavras. 9,5