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UMA ALMA LIVRE (A FREE SOUL)

Um roteiro ótimo, consistente e ousado, principalmente para o ano de 1931, sendo um filme avançado para a época principalmente por algumas cenas e pelo comportamento (e alguns trajes) da protagonista, interpretada por uma das maiores musas dos anos 20/30, Norma Sherer, educada de forma liberal pelo pai, advogado criminalista (alcoólatra), sendo ela ensinada a enfrentar sem medo e sem pudores sociais seus sentimentos e desafios, devendo simplesmente levantar a cada queda e seguir em frente.  A cena inicial, por exemplo, já demonstra bastante audácia – para espanto ou choque de alguns e na época deve ter sido impactante realmente –, mostrando total desprezo pela sociedade moralista, com a insólita liberdade na relação de pai e filha. E no filme todo Jan vai se conduzir como um espírito livre, para perplexidade dos que com ela convivem – inclusive da própria família conservadora -, cuja rejeição já fica de cara evidente, já que as atitudes da moça não condizem com a moral daquela época. Claro que o filme foi realizado antes do famoso código de moralidade, que impôs a censura nas produções feitas a partir de 1934 (este filme é de 1931), caso contrário talvez o próprio filme não pudesse ter sido exibido, por girar em torno de uma personagem com as referidas características, sendo um dos seus temas principais. Mas é um roteiro bem elaborado e atraente, que tem uma visão inclusive atual do alcoolismo, seu tema secundário. O filme tem um estilo de drama policial e que revela um Clark Gable (sem bigode) elegantérrimo e já com o carisma que o consagrou, sendo na verdade um filme fundamental em sua carreira. Dizem que também não escapou a esse magnetismo do ator a própria Norma Sherer, canadense naturalizada americana e esposa do chefão do estúdio (Irving Thalbert), que tem neste um de seus melhores trabalhos. Contam também que a atriz desse filme era para ser Joan Crawford, mas Norma Shearer acabou ganhando o papel, o que teria provocado uma das famosas frases de Crawford: “Como posso competir com Norma Shearer, quando ela dorme com o chefe?”.  O pai da personagem, o advogado criminalista, é muitíssimo bem interpretado por Lionel Barrymore, que ganhou o Oscar por esse papel – boa parte do prêmio certamente se deve às cenas finais, de tribunal. O filme também foi indicado aos Oscars de Melhor diretor (Clarence Brown) e Melhor atriz. Também dele participa Leslie Howard, que oito anos depois faria o papel de Ashley em E o vento levou. Considerando a época em que foi feito, é um filme bastante estruturado (inclusive em termos de som, que era precário na época, pouco tempo da era do cinema falado), com uma história interessante e que inclusive apresente um atraente pacto entre pai e filha, em certo momento. Para se ter uma ideia de como o filme foi realmente pré-Code (antes da censura oficial), a frase usada pela MGM para promovê-lo foi: “Ela não era divorciada, mas acreditava que estranhos poderiam se beijar”. 8,8