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TUDO, EM TODO LUGAR, AO MESMO TEMPO (EVERYTHING, EVERYWHERE, ALL OF ONCE)

Este filme não deverá agradar boa parte das pessoas. O motivo está justificado em seu título. E na exigência de atenção e persistência para que seja bem entendido. Desconheço se vai cair nas graças dos votantes do Oscar (geralmente em boa parte conservadores), como ocorreu no Globo de Ouro, mas o fato é que foi o vencedor do Critic´s Choice Awards há poucas semanas. Porque é algo de certa forma revolucionário, totalmente “insano”, “bizarro”, “surreal”, completamente fora do convencional, mas criativo, inteligente, um frescor na mesmice cinematográfica reinante. Na verdade, um filme extraordinário, de grande fôlego, principalmente se entendido em sua essência (que efetivamente se revela no final). Que provoca a reflexão, mas que talvez exija que se assista a ele mais de uma vez, para ser devidamente percebido e degustado. Pois é tanta coisa acontecendo no filme, que pode gerar cansaço e muitas vezes deixar dúvidas sobre a correta compreensão das coisas. A direção dos “Daniel” Kwan e Scheinert e a montagem, por exemplo, são muito acima do trivial e o filme como um todo é daqueles muito difíceis de se realizar.  A história se apropria de um tema já explorado de ficção científica e o trata de um modo nunca antes visto, com nuances de gibi, de comédia, de drama, de filosofia (que existe até – e de forma memorável – em um “diálogo” de duas pedras contemplando a paisagem do alto de uma montanha). Uma história basicamente familiar em seu cerne é enredada habilmente com possibilidades fascinantes da ficção, em um ritmo incessante, contagiante e empolgante de referências culturais, ações e reações, rebuscados por incríveis e intensos efeitos especiais: lutas chinesas se misturam com questões e ambiente burocráticos em conceitos diversos e recursos cinematográficos dos mais variados. É um turbilhão de sons, cores e acontecimentos – e até pitadas de mistério -, justificando plenamente seu título. A riqueza do roteiro e a qualidade do visual e do som, bem como a belíssima trilha sonora, são incontestáveis. E o elenco não fica atrás e exala qualidade, pela excelente Michelle Yeoh e com uma performance inesquecível de Jamie Lee Curtis, que elaborou um personagem, que certamente tanto a divertiu, quanto a desafiou. E ao longo do enredo, principalmente quando se aproxima seu final, percebemos, com empatia e emoção, que além de seus vários temas, entre eles o do conflito permanente do ser humano com as suas escolhas e o da finitude e a importância e razão das coisas, o filme é na verdade a procura dos encontros, é simplesmente uma linda e emocionante história de amor. 9,2