TRIÂNGULO DA TRISTEZA

Quatro certezas: este é um filme de arte (embora um drama com comédia, meio de humor negro), não é um filme fácil de ser assistido (e provavelmente desgostará a maioria), é um filme que pode ser definido no “ame-o ou odeie-o” e a vontade seria de que as cenas com o ator Woody Harrelson fossem prolongadas, pois sua entrada deu um novo e especial sabor/vigor ao filme, principalmente em razão dos diálogos de forte conotação sócio-política, tornando-o finalmente saboroso, após muitos instantes mornos ou insípidos. É um filme denso, começando pela noção de que seu diretor, sueco, Ruben Ôstlund é o mesmo de The square (vencedor em Cannes em 2017) e O lagosta, outros filmes nada digeríveis. Com o desenvolvimento, haverá também frustrações, na medida em que determinados temas ficarão abruptamente interrompidos. Algumas cenas serão longas demais, outras insatisfatórias e o filme terminará sem uma explicação para o seu final. Faz parte do estilo do diretor, que tem muitos méritos, é verdade, na medida em que constrói muito bem o enredo que deseja mostrar/desvendar, apresenta contundentes análises de comportamento social (sob diversos ângulos e em situações inusitadas, inclusive meio bizarras) e mostra, em tons de sátira ou escárnio, a sociedade, a hierarquia social, o poder e a inversão dele, ironizando a alta sociedade e o impacto de todo um contexto sistematizado. Ou, em outras palavras, a natureza humana e seus padrões e limites, passando pela importância da imagem, das redes sociais, do capital etc. O filme é dividido em três partes e seu mérito é ser realmente diferente, imprevisível e ter instantes de crítica poderosa, inclusive contra o governo americano. Mas seu método de narrativa é bastante contestável, divagando muito, perdendo-se em cenas muito longas e desnecessárias, além de metáforas e exageros, falta de sequência narrativa, deixando, em suma, entreabertas muitas costuras que seriam relevantes. A nota triste é que a intérprete da importante personagem Yaya (pois o filme começa a se desenvolver com o elitista mundo da moda), a atriz sul-africana Charlbi Dean, morreu aos 32 anos após o filme ser premiado com a Palma de Ouro em Cannes. Concorre no próximo Globo de Ouro (10 de janeiro de 2023) aos prêmios de Melhor filme comédia/musical e Melhor atriz coadjuvante (a ótima Dolly de Leon). Quanto ao final do filme, o diretor, em entrevista recente, revelou que foi proposital a liberdade de interpretação e que esse desenlace efetivamente não importa, pois o primordial mesmo é o dilema moral. Em tempo: o título do filme se refere ao espaço físico entre as sobrancelhas das pessoas e que não deve ficar franzido nos modelos que apresentam a alta moda em desfiles e que devem ter tanto a conduta, quanto a aparência física impecável. 8,0