TAO LONGE, TÃO PERTO
“Os olhos são a luz do corpo…”, que terá algo bom ou mau conforme os olhos enxergarem…é a frase que introduz este filme de 1993 de Wim Wenders e que vem a ser a continuação de “Asas do desejo” feito em 1987. Neste, um dos anjos já se adaptou à vida humana e o principal personagem é o vivido pelo ator Otto Sander, muito bem, aliás. Temos também além dele e de Bruno Ganz, a bela Nastassja Kinski (que aparece em poucas cenas) e o versátil Willem Dafoe, além de Peter Falk, cujo personagem se torna ainda mais importante neste segundo filme. A exemplo do primeiro, o filme tem uma mensagem forte (que quanto mais se entende, obviamente mais se gosta – afinal, foi premiado em Cannes), a respeito dos anjos estarem mais próximos do que se imagina, mas desencantados com os seres humanos, pelo fato de não acreditarem mais, de terem perdido a capacidade de dar, de não permitir a entrada da luz pelos olhos rumo ao coração e o caminho oposto, de estarem totalmente confinados aos limites de seus olhos e ouvidos…E o roteiro também apresenta várias reflexões filosóficas, como a respeito do tempo: “Tempo não é dinheiro, é ausência de dinheiro”, “O tempo é o servo se você se tornar seu senhor, mas será seu deus se você for seu cão”. Tem a mesma bela fotografia e cenas em colorido em meio às em preto e branco (não consegui definir uma lógico nesse aspecto). Entretanto, é menos denso que o primeiro filme, mais enxuto, mais palatável, assumindo às vezes ares de comédia e no final virando um filme de ação. Contudo, essa mistura acaba causando uma espécie de perplexidade, uma sensação de quebra, dando a ele mais simplicidade, mas roubando-lhe um pouco a clareza e a qualidade. E o final, embora em parte compreensível, apresenta fatos desconexos. Vale pelo conjunto, pelos símbolos, pela inteligência do roteiro, mas o considero superestimado, muito embora esse respeitável diretor mereça certamente aplausos por todos os trabalhos que apresentou em sua carreira, entre os quais Paris Texas, Buena Vista Social Club, O amigo americano e o excepcional documentário sobre a vida de Sebastião Salgado: O sal da terra. 7,8