Imprimir Shortlink

RÉQUIEM PARA UM SONHO (REQUIEM FOR A DREAM)

Tendo em mãos um tema delicado e complexo (o mundo dos viciados em drogas), o diretor Darren Aronofsky (Cisne negro, Mãe, A baleia) conseguiu transpor para a tela um dos filmes mais realistas, crus e assustadores que o cinema já viu. Não foi uma tarefa fácil pegar um roteiro, embora bem construído, e rechear a tela com o espetáculo que esse filme é. Embora doloroso e pungente. E também graças ao desempenho magistral do trio de protagonistas – Ellen Burstyn, Jennifer Connelly e Jared Leto e mais Marlon Wayans – e a uma trilha sonora forte e alucinante (o tema principal é a magnífica e épica Lux Aeterna, de Clint Mansell). Aliás, a trilha é simplesmente avassaladora, expondo á luz o interior tumultuado dos personagens e transmitindo sentimentos absolutamente poderosos, inclusive de destruição. O som e as imagens são muitíssimo bem utilizados de forma harmônica, com ângulos diversos da ousada câmera, centenas de cortes de cena, tela dividida, tudo para dar as sensações alucinógenas da realidade alterada e fazer o público mergulhar em um mundo que não lhe pertence. A história aqui contada não faz concessões e contempla com profundidade a busca da felicidade ilusória, mas que é praticamente sem retorno e desconstrói a humanidade das pessoas, retirando-lhes a identidade, o próprio rosto. O filme inclusive faz um paralelo muito interessante entre a velhice e a juventude, ambos os casos tendo como tema comum o próprio vício. E os limite insanos vão se repetindo e é um turbilhão que aprisiona cada vez mais. Vê-se, então, que o roteiro nada tem de cor-de-rosa e não é uma história de fácil digestão, obviamente não agradando todo tipo de público, principalmente aquele que procura filmes bonitos e de finais felizes. O filme aqui é horrível na realidade que retrata, mas nesse sentido pode muito bem servir como um libelo no combate a esse inimigo contemporâneo ou no mínimo servir como pesada advertência. E sua realização aproxima-se da obra de arte, porque sendo do ano 2000, ainda permanece intenso e vicejante como um dos filmes mais densos da história do cinema, entrando na alma do espectador e mostrando dramas psicológicos e físicos em uma transformação dura e frenética, escavando as entranhas dos personagens e explorando a degradação e o abismo, nas vertigens do desespero. Algo pungente e um trabalho de mestre, contado por meio das estações do ano, menos a primavera: e por razões óbvias não se consegue retirar do enredo o que seria a esperança, talvez o símbolo dessa estação. Direção, edição, fotografia, trilha e elenco, tudo brilha e Burstyn foi indicada a Melhor Atriz tanto no Oscar, quanto no Globo de Ouro, tendo ganho nessa categoria no Independent Spirit Awards de 2001. Esse prêmio também foi dado ao filme na categoria de Fotografia e Jennifer também foi uma das indicadas. A palavra “réquiem” vem do latim e significa “repouso ou descanso”, sendo comum no mundo da música significar aquela criada para cerimônias fúnebres ou então homenagear os mortos. Prime Vídeo. 9,5